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INÉDITOS. 102

01-12-2022 10:39

As três tentações de Sampaio Bruno[1]

 

São três as ideias que articulam o pensamento de Sampaio Bruno: a de jogo, a de viagem e a de Deus. Digo ideias, mas melhor diria se as dissesse tentações. Que o jogo seja para alguém uma tentação toda a gente o admite; já menos o admite para viagem e menos ainda para Deus.

Acreditar e crer em Deus vai-se a pouco e pouco tornando uma anormalidade. Em Sampaio Bruno, livre-pensador jacobino, foi um desafio. A normalidade, no círculo dos seus correvolucionários, era o livre-pensador ateu.

O jogo e a viagem não foram, para ele, tentações como vícios, mas como fascínios convergindo para a suprema tentação.  

 

António Telmo



[1] Nota do editor – O título é da nossa responsabilidade.

 

UNIVERSO TÉLMICO. 74

13-11-2022 08:37

Pedro Agostinho está agora brincando no “mundo dos encantados”

Helena Briosa e Mota

 

Todos gostamos de brincar. Uns mais que outros. E os que de nós se esqueceram do gostoso que é ser criança, da maravilha que é rir, abrir a boca e deixar soltar gargalhada pura e límpida – em particular para de si próprio rir –, esses terão dificuldade em entender quem, sendo adulto, soube guardar no coração a singeleza e a candura infantil da crença na bondade d’O Outro. Na bondade do mundo.

Ontem, quando o dia se despedia do sol para deixar entrar a noite, Jorge Barros – o mais indefectível, presente e atento dos Amigos de George Agostinho, pai de Pedro – trouxe a notícia; e ei-la correndo deste lado do Atlântico como fogo em erva seca. Quase que de imediato, da Alemanha, Ângela, em amorosa e serena evocação do mestre de eleição, o seu primeiro na Antropologia, presenteia-nos com a imagem do Amigo partido que vejo agora, brincando e rindo no “mundo dos encantados”.

 

O jovem Pedro Agostinho (à esquerda) e Agostinho da Silva

 

Apaixonado pelo conhecimento do passado como forma de entender e perspectivar o futuro, divulgador do pensamento e da acção cultural de seu pai, George Agostinho Baptista da Silva, Pedro Manuel Agostinho da Silva, professor e renomado antropólogo, ficará conhecido e será lembrado pela luta em defesa da ecologia em geral e, em concreto, dos povos indígenas e originários no Brasil; por ter trazido para a pauta a questão dos direitos humanos e do conhecimento da grandeza cultural dos Pataxó, dos Yanomami, dos Kamayurá, dos Nambikwara, ….; por ter pugnado pela defesa da sua emancipação, pelo direito de viverem em liberdade nos terrenos que dos seus ancestrais herdaram e exemplarmente preservaram.

Pedro Agostinho é amado. E não será esquecido por alunos e pares, por gente erudita e gente comum. Pela mestria, sem dúvida, mas particularmente pela humanidade.

Ângela Nunes enaltece o «amigo incondicional e generoso, acolhedor, se esquecendo de si para dar lugar aos outros. E distraído, capaz de se rir às gargalhadas das suas próprias “falhas”.» Igual ao Pai, é aclamado pela «sabedoria imensurável sobre TUDO!!!» e estimado por «aquela simplicidade verdadeira», exemplar, n’«aquela vida espartana…»

Pedro deixa-nos no dia em que a comunidade luso-brasileira chora a partida da senhora da inconfundível voz. Ei-los, Pedro e Gal, Gal e Pedro; ei-los que entram na cosmologia do reino dos mortos. Da Região do Baixo Amazonas; da Região das nossas vidas.

Na companhia dos que os antecederam, mais que integrarem a legião dos seres das terras, das águas e dos ares a quem os mortais recorrem em preito de devoção e pedido de ajuda, Pedro Agostinho passa agora a integrar o panteão de quantos, porque hábeis mestres na arte complexa de serem capazes de se fazer amar, passaram a habitar o coração dos homens. E por isso, com um sorriso, revejo-me no que João Rodrigo, o filho caçula, me diz: «Querida Helena, Pedrão vive em nós!!!!». Não tenho dúvidas, João; e sei que a “tribo”, mais que comungar da opinião, a aplaude.

Tendo partido com o Pai para terras da América Latina em Maio de 1944, Pedro Agostinho, então com 14 anos, viveu a quase totalidade da sua existência em terras de Vera Cruz. Cinquenta anos passados, em 1994, reconhecido pelo país que o viu nascer, o Presidente da República Portuguesa outorga-lhe a Comenda da Ordem Militar de Santiago da Espada. Pela brilhante acção desenvolvida nos campos das Ciências, Artes e Letras.

Convoco de novo quem de longe se faz presente. Secundando a afirmação nascida do espanto de Ângela Nunes:

                               «Gente assim há pouca! Que ricas somos, tê-lo tido como amigo.»

Sem dúvida, minha Amiga, Pedro Agostinho é e será para nós, «Inesquecível.»

                                               

         Em Lisboa, no dia de São Martinho de 2022

 

UNIVERSO TÉLMICO. 73

21-10-2022 00:11

Preâmbulo[1]

Elísio Gala

 

Esta obra é simultaneamente uma obra temporal – marcada pelos nomes das personagens que identifica e cita – e é também intemporal, feita para todos quantos na liberdade do pensamento garantem o trânsito para a liberdade que demanda a mais plena realização da justiça.

É inegável a sua actualidade ética, social e política, no que esta tem de trágico e portanto de frustração da liberdade em luta inglória com o destino.

As considerações que aqui se apresentam têm como horizonte a consciência de que o desenvolvimento das paixões afecta toda a vida e de que os “encantamentos” de diferentes naturezas – erótica, religiosa, política, militar – são fonte de conflito com os deveres.

Mas outras interrogações se levantam: o problema do fundamento, natureza e garantia de uma comunidade; o valor da ciência; a interrogação sobre a forma de regime; o desejo de libertação em confronto com o comodismo e o violento ataque de muitos; o superior sentido da educação radicado no mais íntimo da alma humana e não na expressão relativista e naturalista da vontade do mais forte (grupo de proprietários, maioria popular, ou um só homem).

Nesta obra se mostra como os regimes menos dependem das instituições que da virtude dos homens, pelo que o verdadeiro guardião de uma sociedade é sobretudo a apropriada educação e cultura. É na educação que uma comunidade encontra a sua essência e sustentáculo, pelo que o Homem se degrada e destrói quanto mais minada estiver uma sociedade nos seus valores e tradições.

Aqui se critica o moderno, igualitário e meramente descritivo conceito de cultura, longe do alto e valorativo ideal de cultura como princípio formativo, hierarquizador dos modos e formas de manifestação dos indivíduos e povos, apontando à excelência que só em almas de escola pode alcançar a perfeição.

O Plutocrata é, como o afirma o seu autor, o resultado de conversas semanais ocorridas em tertúlias de amigos, onde se descreve a indignação da sociedade portuguesa.

Um deles, Orlando Vitorino, foi quem mais decisivamente estimulou Ernesto Palma, autor de Orientação da Leitura. Ernesto Palme é um homem de acção que tem a seu modo procurado elevar o nível cultural e social das populações mais desamparadas. Poderia parecer então que, apostado na eficácia que pertence à acção, esquecesse a beleza e o valor educativo que são pertença da literatura. Nada de mais errado. Do convívio assíduo com a experiência e saber de homens como Orlando Vitorino, retirou – como disse em saudosa conversa – as mais subtis e luminosas sugestões para esta obra.

Ernesto Palma, ao indagar da sociedade portuguesa, só aparentemente faz trabalho de sociólogo, uma vez que os conceitos que nos apresenta aparecem-nos definidos e determinados antes de qualquer abstracção da liberdade individual. Contrariando o método sociológico de observação e experimentação, situa o homem num plano de associação superior ao da animalidade. O nosso autor apresenta-nos o problema da liberdade e da culpa, da análise da qualidade de uma vida que deve ser julgada pela sua aptidão para desenvolver a virtude na alma.

Num período de influências corruptoras, dá-nos exemplo de uma liberdade com substância, já que nascida no “amor da sabedoria” e não em mero hábito. Ele é um auxiliador na busca de um caminho de abolição do igualitarismo nas almas, incitando-nos a ascender desta noite… para a luz da Verdade.

A sociedade é uma psyche. Se doente e desordenada, doente e desordenada também a psyche dos seus membros. A construção da sociedade é a construção da alma, operada a partir do centro onde se situa a ascensão para a luz. Mas como resistir à morte? Uma das fontes da vida é a interrogação, que é já manifestação de que há um “cuidado da alma”, cuidado do que há de divino no Homem. E toda esta obra na sua rigorosa dedução está prenhe de interrogações.

Só o autodomínio permitirá alcançar a harmonia da existência moral do Homem com a ordem natural do Universo. Com o crescente poderio das máquinas, aparelhos e utensílios a consciência humana verifica como a imprensa, pode servir contrários fins. Nascida para a difusão de valores culturais torna-se arma mortal de injúria, insulto, subversão valorativa e adormecimento mental. Para este adormecimento também contribui a planificação da cultura executada através da estatização do ensino, do controlo da informação e do monopólio do reconhecimento social.

Quer o poder “mortal” da imprensa, quer o efeito adormecedor da planificação cultural corrompem a sociedade. A sociedade corrupta é como um animal grande e forte, que Platão denominou de “a grande besta”. Estudados os hábitos do animal, há que encontrar as palavras e tom adequado ao seu governo. O que o animal gostar será bom. O que o provocar será mau. Assim se compreende a miserável natureza dos conteúdos de muitos dos programas transmitidos pela televisão e de muitos dos espectáculos subsidiados.

A libertação de tais cadeias só poderá ser realizada ou por um qualquer nobre espírito, aperfeiçoado pela educação e retido pelo exílio longe da sua pátria; ou por uma grande alma que nascida numa pequena aldeia, não manifeste qualquer interesse por cargos de administração política; ou talvez por um pequeno grupo que, vindo para a filosofia, para a qual a natureza os dotou, se determine a firmar a sua razão e ética no amor ao saber e não numa vontade social ou acaso determinado naturalmente.

Ernesto Palma, dotado de nobre espírito e grandeza de alma, encontrou os amigos e o convívio que lhe permitiram provar da doçura e beatitude do bem da filosofia.

Esta obra coloca-nos perante uma dificuldade e uma constatação. A dificuldade é a do restabelecimento da vera hierarquia dos poderes humanos, isto é, da subordinação da técnica à ciência e desta à metafísica. A constatação é a de que toda a política há-de estar dependente de uma ética, por sua vez subordinada a um sistema de filosofia.

No abismo das forças existenciais, passadas e presentes, a alma experiencia a morte. Na escuridão da luta e do sofrimento, pode-se gerar no centro da alma a luz que ilumina o caminho do conhecimento, e permita distinguir a vida, do calafrio da morte.

A filosofia é essa luz e esse esforço de identificação conceptual das forças do mal. Enquanto luz, a filosofia constitui um acto salvífico individual e comunitário, uma vez que ao evocar e reconstituir a ordem recta na alma de quem filosofa, faz com que aquela alma se torne o centro de uma comunidade livre da circundante sociedade corruptora.

Até ao fim da sua vida, o autor desta obra soube manter-se tranquilo face ao desvario da multidão. Qual viajante surpreendido por uma tempestade, soube abrigar-se no amor ao saber. Abrigar-se da chuva da injustiça, da poeira do corte da relação da natureza com a graça, do vento da liberdade humana não solidária com a existência de Deus.

O proveito da leitura de O Plutocrata consiste em ganharmos consciência do carácter absurdo e cruel de um mundo regulado e regulamentado por homens desprovidos de virtudes teologais.

O proveito da leitura de O Plutocrata é dar-nos a bela esperança de que libertos da vida ali descrita, talvez nos possamos descobrir, serenos e em paz, quando chegar o fim.                         



[1] Nota do editor – De O Plutocrata, de Ernesto Palma, 2.ª edição, Vila Viçosa, Serra d'Ossa, 2009.

 

UNIVERSO TÉLMICO. 72

21-10-2022 00:07

Sobre O Plutocrata*

 

 

Uma família dar à luz um génio, pode acontecer, mas dois já se torna surpreendente. O meu primeiro e importante encontro com os Vitorino deu-se com António Telmo, que trouxe até mim um tesouro de nomes e obras onde encontrei o seu irmão Orlando, cuja obra conheço muito mal, mas quando há uns tempos li O Plutocrata, fiquei espantada com tanta coragem no pensar e no dizer. Comecei sendo surpreendida pela actualidade e lucidez, e depois fiquei a pensar na forma magistral como ele, enquanto homem de teatro, consegue que o próprio livro seja uma encenação. Não vejo Ernesto Palma como um pseudónimo, pois é-lhe dada vida e um relacionamento com o autor/ortónimo, para além de que Orlando Vitorino não  se limita a criar um heterónimo, mas coloca-se a si mesmo a manipulá-lo, como bonecreiro que se oculta mas não se esconde e revela os bastidores, sendo que esta revelação é a forma de fingir que está a velar aquilo que, afinal, revela. E assim temos, nas primeiras páginas, o plano do palco.

O conteúdo não é menos brilhante do que a forma. E veremos, lá mais para o fim, como estão profundamente ligados.  Revolução, guerra, argentário e plutocrata, que dá o título ao texto, são conceitos que vai explanando ao longo do livro enquanto analisa acontecimentos e personagens históricos, situando-se nos três últimos eventos revolucionários: 1910, 1926 e 1974, em que modelos foram sendo substituídos: monarquia por república, república por ditadura e ditadura por democracia, mas concentrando-se, sobretudo, no mais recente, observando que apesar dos discursos, se verifica que a revolução «assegura a perduração das mesmas hierarquias e, à frente delas, os mesmos burgueses» constituindo famílias e clãs. Há famílias que vão passando de regime em regime. Pergunta então: porquê a revolução, tendo em conta que esta não é feita pelo povo? Para saber quem faz a revolução, começa por pôr de lado quem a não faz: os políticos, as grandes instituições, onde inclui a igreja, e os argentários. Resta, então, o plutocrata, sendo que apenas um, até hoje, se assumiu como tal, colocando-se a hipótese de que os outros se escondam entre os argentários. Convém, contudo, distinguir muito bem uns dos outros: o fito do argentário é deter a posse do dinheiro para o aumentar, ao passo que o plutocrata detém a sua disponibilidade para exercer o poder sobre a sociedade. É essa disponibilidade que permite fazer, ou não, uma revolução.

O retrato do plutocrata é a discrição, até ao secretismo. Exemplifica com Mendizabel, que viria a ser Ministro da Fazenda e Presidente do Governo de Espanha, e ajudou a financiar e a organizar a revolução liberal; vendo-a perdida e o povo a apossar-se dela para a transformar numa guerra sangrenta, não deixou de a financiar até à vitória que se julgava impossível. Quando tal aconteceu, festejou com um jantar faustoso e discretamente se retirou. A missão estava cumprida.

Orlando Vitorino vê o plutocrata como um fenómeno contemporâneo relacionado com a quantidade de dinheiro disponível, os 90% que ultrapassam a aplicação na transacção das mercadorias. É ele, segundo “Ernesto Palma”, a que Orlando Vitorino, na sua encenação, ‘dá voz’, o obreiro da revolução, que tem sempre na base a ameaça de alteração da sociedade, que não vem do exterior, mas sim do povo. A revolução é uma espécie de mudança de alguma coisa, para que tudo se conserve: evitar que o povo percorra o caminho que vai da insatisfação à guerra e destrua a estrutura que ele [plutocrata] deu à sociedade. O que tem de acontecer periodicamente, pelo desgaste dos regimes políticos. No momento da necessidade do acontecer, tudo tem de estar já preparado, e toma a forma de jogo com o político, e de recrutamento e formação dos revolucionários. É na classe média que vai recrutá-los, pelas suas ambições financeiras, pelas suas pretensões intelectuais, matéria dócil às modulações que o plutocrata lhe queira dar alimentando-lhe os motivos de ressentimento e frustração, sustentando-lhe a vesânia até ao momento de ela ter sua soltura na revolução, incutindo-lhe pelos jornais e pela universidade os chavões do novo regime. Todos os regimes lhe servem, mas em 74 era a democracia que se mostrava mais consensual, pois comprovadas inviabilidade e falência do socialismo, a democracia acaba por ficar apenas formal, e por ser exercida, de facto, como uma ditadura. O que Orlando mostrará com a demonstração da subtilmente instituída censura, nas páginas que dedicará à cultura. Não interessa ao plutocrata a ideologia, mas a sua eficácia, em função do objectivo que pretende.

 Orlando Vitorino percebe isto antes, muito antes, dos tempos que estamos a viver, mas que ele já entrevia, por estar atento aos sinais. Não se trata de um estudo de sondagens, mas de uma apurada sensibilidade para compreender o pulsar do sistema.

Da revolução é apresentada a receita simples: começa o plutocrata por fazer avançar os militares, aplaudidos como heróis, nas ruas solta os revolucionários da classe média já devidamente formados, com slogans e cartazes contra… ele, o plutocrata. Seguidamente faz regressar os políticos dos seus idílicos desterros mais ou menos idílicos a quem os militares entregam os poderes de estado.

Ora sendo muito bem analisado, não podemos deixar de notar o excesso de simplificação, pois nem todos estavam em exílios dourados: muito estavam em prisões em condições inclassificáveis e muitos já tinham morrido nelas ou a fugir delas.

No que é genial é a apresentar o plutocrata como oferecendo-se à execração pública e à espoliação de bens e direitos, como empresas e bancos, abandonando o país, para… instalado o regabofe, palavra que vai buscar a Herculano e Oliveira Martins, o nepotismo e as arbitrariedades e a corrupção, a aproximação da ruína e do abismo, lhe ser rogado, por populações em susto, e pelos políticos, que regresse. Com direito à restituição de empresas, bancos, jornais, televisões, etc, desde que regresse.

Uma vez regressado, o calcanhar de Aquiles do plutocrata é a cultura, porque não a consegue conceber a não ser na sua forma planificada e vazia, e não pulsante e viva, livre do controlo do sistema. Volta-se para as instituições do regime, concede benesses aos seus intelectuais, e prossegue em direcção ao seu fim, que é a eliminação do pensamento filosófico, artístico e científico. Ridicularizando, esvaziando, e submergindo sob tecnologia.

Vai centrar-se, uma boa metade do livro, naquilo que dá a ver como a tragédia e o espectáculo da planificação da cultura para a abolição do pensamento. Aqui começamos a compreender como forma e fundo, neste livro, estão ligados. É a redução de tudo ao espectáculo, que acaba por ser uma estratégia de encobrimento da censura, as luzes dos holofotes ocultando a cor do lápis azul que as massas, encadeadas pela luz de cena, não conseguem descortinar. A singularidade e a identidade dos povos ficam completamente escamoteadas e substituídas por produtos culturais artificiais, arbitrários e vazios.

O autor usa o método teatral para desmascarar o espectáculo de uma cultura em que o  sábio é obsoleto, o investigador independente da comunidade científica é não validado, e assim se instala o Santo Ofício a amordaçar Galileu, a universidade de Londres a querer impedir Shakespeare de escrever, a perseguição feita pelos nazis à filosofia judaica, ou a proposta de um antigo parlamentar do anterior regime, que para calar Aquilino, pretendia proibir de publicar algum livro quem não obtivesse previamente licença ou licenciatura da universidade. Quantas das nossas obras-primas não teriam sido publicadas! Na democracia, os processos não são tão primários, são mais subtis, ou menos grosseiros, pela sofisticação, mas igualmente perversos.

Eliminado o pensamento superior, aquele mais requintado e complexo, resta, e estamos rodeados por ele, o pensamento vulgar.

Recorda ainda momentos civilizacionais dolorosos como aquele, no mundo islâmico, que se seguiu a séculos de esplendor intelectual e cultural, entre os séculos VII e XII, cujo movimento civilizacional acabou por ser extinto, até hoje, pelo livro de El Gazali: A Destruição dos Filósofos. Apesar da resistência do notável Averroes, que deu origem à destruição da sua obra e condenação a prisão perpétua, aquilo que se seguiu foi destruição sistemática das obras dos sábios, multiplicação dos autos-de-fé, lavagem da tinta dos manuscritos, incêndio das bibliotecas.

Vale a pena lermos as palavras de Moisés Espírito Santo que seguidamente transcreve:

«O mundo muçulmano apresenta desde então o espectáculo calamitoso de um universo paralisado […], a civilização muçulmana condenada a reclusão perpétua». Acrescenta: «O mundo islâmico aparece-nos, desde então, sem vivalma, multidões sem a menor criatividade intelectual e inovação, um deserto […]. Do século XII até ao nosso tempo, o rol dos seus cientistas e filósofos é uma folha em branco […], o seu contributo para o progresso da humanidade cifra-se em zero.[…] Hoje o que as antenas dos media captam [deste mundo], são movimentos políticos de revolta e desespero, terrorismo, repressão das liberdades». Terminada esta citação, retoma o autor o paralelismo aonde pretende chegar, socorrendo-se de Renan, para quem, com «a exterminação violenta da filosofia no século XII, nem mais uma dúvida se produziu, nem mais um protesto se levantou no mundo muçulmano». E para Fereydoon Hoveyda, o escritor, pensador e diplomata iraniano, «a destruição dos filósofos foi um verdadeiro suicídio, o mundo islâmico imobilizou-se no século XII; do Índico ao Atlântico imobilidade completa».

Onde pretende Orlando Vitorino chegar trazendo estes autores às suas páginas? A um paralelo entre esta tragédia para a civilização islâmica (e para o mundo…) e o que se passa actualmente no ocidente: «a eliminação da filosofia por doutrinas cada vez mais divulgadas nas escolas (o estruturalismo, a “nova história”, a “etnologia moderna”, a “linguística moderna”, o neo-pragmatismo americano […], a mesma evanescência do pensamento artístico reduzido a obras de imitação e cópia, com a estética no lugar da poética. […] A mesma abolição do pensamento científico desprezado e rejeitado pela tecnologia devastadora das mentalidades e pela cibernética capaz de devastar a natureza», etc, acrescentando ainda o fundamentalismo teocrático substituído por outro tipo de fundamentalismo, democrático ou, talvez, pseudodemocrático.

No fundo, trata-se da tentativa de abolir o pensamento individual e original e a dúvida, instaurando algumas vacas sagradas bem-pensantes e inquestionáveis, que uniformizam crenças e punem desvios, sendo que qualquer tipo de afastamento do rebanho é tomado como individualismo excessivo ou rebeldia. Aquilo que Moisés Espírito Santo designa como «calamitoso espectáculo». Aos Ministérios da Cultura e da Comunicação Social vê-os como herdeiros directos dos totalitarismos nazi e comunista, adoptados sem questionamento por quase todos os regimes democráticos do mundo, manipulando o que deve ser a cultura neste mesmo mundo. Então, sobre o real, a humanidade tem vindo a desenvolver crenças como: apenas o fenómeno é real, e após o positivismo, em que só facto era real, o domínio da natureza pela técnica criou a crença de que só o social é real, culminando «nos nossos dias, com o crescente predomínio da técnica e seguindo um processo que escapa à sociologia e se desloca para a cibernética, a realidade transfere-se para o espectáculo. Agora, só o espectáculo é real». Creio não haver nenhuma dúvida de que ainda hoje é este imperativo que vigora. Basta assistirmos aos nossos telejornais. O pior do teatro sem a catarse, que é o melhor dele.

O inquietante é que: «com […] a realidade identificada ao espectáculo, a planificação não só se torna possível como só há lugar para ela.» E com isto, a ausência da liberdade, uma espécie de morte. Sem resistência, e é isso que é trágico.

Discorre seguidamente sobre como o próprio plutocrata se vê esfumado no meio do espectáculo, e de como funciona o mecanismo da planificação. Mas não pretende este texto tornar-se paráfrase do livro que o inspirou. Por isso, remeto para uma leitura atenta destas páginas, nomeadamente para as consequências da planificação geral das artes, palavras aflitivas de lucidez, sobretudo no que se refere ao teatro, com os belos teatros pelo país fora encerrados ou demolidos; contudo, «às ‘companhias de actores’ que teimam em persistir, dá-se-lhes a esmola de um subsídio e improvisam-se para elas espaços impróprios em armazéns abandonados».

Dá exemplos de gigantismo e gosto pelo sepulcral em casos, factos, construções, edifícios e orçamentos que em lugar da cultura cultuam o vazio espectáculo do vazio, transmitido por um único e multiplicado palco chamado televisão, criando hordas de indiferentes multidões hipnotizadas.

Vejamos:

«A indiferença, sendo a anulação de todas as diferenças ou determinações que distinguem e afirmam a personalidade dos homens, a individualidade dos seres e a singularidade das coisas, é já exaustão realizada, o niilismo enfim alcançado. Aparece como condição para se ter lugar no espectáculo, mas ultrapassa-o. Põe fim à época em que só é real o espectáculo e anuncia a época em que só o vazio é real».

 Numa sociedade de enganos como aquela em que vivemos, é tão difícil afirmar a verdade, que só mesmo um homem do teatro, com o que o teatro tem do domínio infantil, escondendo-se atrás da sua máscara de bobo, a que aqui chama «Ernesto Palma», consegue dizer que o rei vai nu.

Não queremos, não temos de, e talvez não possamos concordar com tudo, admitir esta análise na totalidade seria, talvez deitar por terra todo o ideal de uma geração, no que se refere à mais recente revolução, mas às vezes, para que algo se salve, é preciso ter a coragem de arriscar tudo perder. Porque vai haver outra revolução daqui a umas décadas, um século, dois, menos, o plutocrata saberá melhor do que nós, pois é obra dele, e seria lamentável, talvez trágico, que não tivéssemos aprendido nada com este livro.

 

Lisboa, 19 de Outubro de 2022

 

____________

* Palma, Ernesto, O Plutocrata, Ed. Serra d’Ossa, Vila Viçosa, 2009. 1ª edição: Edições Ledo, Lisboa, 1996.

DOS LIVROS. 70

21-10-2022 00:04

De um caderno de apontamentos. 10

 

A ideia de reencarnação, de que já cá estivemos muitas vezes e de que voltamos de novo à vida para obtermos melhor conhecimento e maior aperfeiçoamento, talvez num processo sem fim, fez que se caísse no absurdo de haver, ao mesmo tempo, centenas de praticantes de espiritismo que receberam do outro mundo a comunicação de terem em si um homem ilustre ou, o que é o mesmo, de terem sido, no passado, Platão ou Napoleão. O filósofo e o general são os preferidos. Ultimamente, em Portugal e até fora de Portugal, Fernando Pessoa faz-lhes concorrência.

O que se nos afigura ridículo, absurdo, impossível nestas transmigrações de corpo para corpo do mesmo homem ilustre não o é no domínio do espírito. Assim, por exemplo, D. Quixote, que é uma pura criação espiritual pode estar presente ao mesmo tempo, embora de modos diferentes, na alma de várias pessoas realmente existentes, sem que se possa falar de imitação, mas por afinidade electiva. Esteve encarnado em D. Miguel de Unamuno, para lembrar o caso mais evidente, em D. Miguel de Unamuno que até escreveu um livro sobre si próprio dando-o como tratando de D. Quixote. Entre nós, os parapsicólogos poderiam indagar se não foi esse também o caso do António Sérgio e do Agostinho da Silva, batalhadores indomáveis. Deixo ao cuidado do leitor a identificação de D. Quixote nos restantes países da Europa, da África, de Ásia e das Américas. Não digo que haja uma multidão deles. Não é qualquer que é D. Quixote. Ele é o espírito na sua forma combativa e a maioria das pessoas são só almas.

Infeliz ou supremamente feliz será o dia em que deixe de vir almar-se na terra. Infeliz por se ter decepcionado com o próprio combate que a nada levou; feliz, se já cá não for preciso. Mas antes do Apocalipse, isto é, da Revelação final e absoluta, há-de regressar sempre para derrotar os mágicos negros e as suas manipulações.

A figura perfeita, exemplar, inimitável de D. Quixote, pelo pensamento e pelo comportamento, foi, ainda há pouco tempo, que Deus o tenha em paz!, um dos irmãos por vontade de Deus de quem escreve estas linhas. Não há político, professor universitário, literato que não saiba imediatamente de quem falo. De Orlando Vitorino, claro.

 

António Telmo       

 

(Publicado em A Aventura Maçónica e outros textos sobre a Arte Real, 2018)

EDITORIAL. 28

21-10-2022 00:01

No centenário de Orlando Vitorino 

 

Orlando Vitorino nasceu há cem anos. O irmão mais velho de António Telmo, como este (e como Rui Vitorino, termo médio da fratria) natural de Almeida, e falecido em 14 de Dezembro de 2003, foi um dos mais importantes filósofos portugueses do século XX, deixando uma obra singular e poderosa que terá porventura atingido o seu acme no díptico formado por Refutação da Filosofia Triunfante (1976) e Exaltação da Filosofia Derrotada (1983), títulos que de longa data reclamam o benefício da sua reedição.

Igualmente actor, encenador e dramaturgo (com incursões no domínio da sétima arte, em que rodou algumas curtas-metragens e uma longa metragem, além de colaborar com Manuel Guimarães), Orlando legou-nos notabilíssimas peças de teatro como Nem Amantes Nem Amigos (1962) e Tongatabu (1965). Se também estas são obras há muito desaparecidas dos escaparates, deve, porém, salientar-se o surgimento, desde há pouco mais de uma década, de alguns seus novos títulos fundamentais como Manual de Teoria Política Aplicada (2010), A Fenomenologia do Mal e outros ensaios filosóficos (2010) e As Teses da Filosofia Portuguesa (2015).

Tradutor de Hegel e Stuart Mill, mas também de Friedrich Hayek, cujo pensamento liberal introduziu em Portugal, Orlando foi ainda co-director do jornal 57 e da revista Escola Formal.

Em 1985 anunciou a sua intenção de se candidatar à eleição para a Presidência da República, sem que tenha, porém, conseguido recolher as assinaturas necessárias para esse efeito.

Orlando Vitorino teve uma influência decisiva no trajecto de seu irmão António Telmo como filósofo, ora mediando, na segunda metade dos anos 40, o ingresso deste na tertúlia filosófica lisboeta constituída em torno de Álvaro Ribeiro e José Marinho, ora apadrinhando, com a chancela da Teoremas de Teatro, o volume Arte Poética, com que Telmo, no final de 1963, faz a sua estreia em livro.

Já depois da partida de Orlando, foi a vez de António Telmo, em preito de gratidão e memória, se empenhar decisivamente na reedição de O Plutocrata, opúsculo que havia originalmente sido dado à estampa por Orlando, sob o pseudónimo de Ernesto Palma, em 1996, nas Edições Ledo, e que voltará assim a sair a lume em 2009, com a chancela da Serra d’Ossa.

É sobretudo a partir das páginas deste livrinho, que tão bem ilustram a sedução não isenta de mise-en-scène e o jeito provocador e potencialmente polémico com que Orlando sempre nos interpela, que assinalamos hoje, nesta página, o centenário do seu nascimento, recuperando, para o efeito, o texto preambular que Elísio Gala escreveu para a sua reedição e, bem assim, uma reflexão que a leitura desta obra surpreendente motivou a Risoleta C. Pinto Pedro. A primeira e última palavra cabe, porém, a António Telmo, com o retrato que de Orlando nos deixou em Congeminações de um Neopitagórico. O de um Quixote que nos move.

 

INÉDITOS. 101

16-10-2022 11:21

Filosofia, religião e poesia[1]

 

O conceito de religião não deve perder-se na noção geral da relação do homem com Deus, pois outras formas dessa relação existem, como a filosofia e a poesia, tão presente e vivente nas duas que falar de filosofia religiosa ou de poesia religiosa deriva do erro de se pensar que possa haver filosofia e poesia analfabetas. O que importa, pois, distinguir é o que em cada uma forma a relação.

 

A filosofia é o conhecimento de Deus pela razão; a religião pelo rito; a poesia pela palavra.

 

António Telmo



[1] Nota do editor – O título é da nossa responsabilidade.

 

VOZ PASSIVA. 124

21-08-2022 00:25

António Telmo e a astrologia: doze anos depois

(das terras de Estremoz vê-se melhor os céus)

Eduardo Aroso

 

Parece ser desígnio dos grandes seres a admiração pela relação que possa haver dos astros e dos humanos nas suas múltiplas facetas, influência extensiva ao mundo mineral, vegetal e animal. De tempos a tempos surgem listas, algumas exaustivas, de personalidades históricas que viveram nessa pertinência divina da relação causa-efeito e de uma mais ampla fraternidade cósmica. Muitas vezes, nessas almas invulgares, o espanto e interrogação dão mesmo lugar ao estudo mais ou menos afincado na matéria em causa. No momento em que escrevemos estas palavras, lemos um dos dezassete sonetos que William Shakespeare dedicou ao Jovem Desconhecido e onde o notável escritor escreve: «Das estrelas não vou julgamento extrair, /Mesmo tendo o saber de toda a astronomia» (*), tradução da brasileira Renata Maria Parreira Cordeiro, Landy editora, S. Paulo, 2003. Um ponto assaz importante é que Shakespeare, no contexto, por uma atitude porventura cauta, abstém-se de dar conselhos no seguimento do soneto. Todavia, clarividente da situação, não deixa contudo de animar o jovem.

Para além das situações de tipo utilitário a que a vida muitas vezes nos obriga (estas também revestidas do que se poderia chamar actos conscientes), é sempre difícil averiguar se também – ou essencialmente -  haverá razões mais profundas que levem um filósofo nascido numa região montanhosa da Beira Alta a ir descendo até à planície alentejana, onde, como certamente todos já tivemos a experiência, o céu parece estar mais próximo de nós, e mesmo que assim não seja realmente, a nossa visão é mais nítida, e neste sentido podemos criar uma outra proximidade sobre o sentido da vida.

António Telmo marcou o seu sério interesse pela astrologia em várias obras, faceta do filósofo que, mais detalhadamente, será explanada por nós numa publicação a editar brevemente, com escritos inéditos. Assim, não apenas um interesse dir-se-ia circunstancial, mas através da astrologia (qual Fio de Ariadne) melhor o filósofo pôde adentrar-se nos meandros ocultos do nosso destino, o que está bem patente, por exemplo, na sua obra História Secreta de Portugal. Quando da publicação do vol. VII das Obras Completas de António Temo (editora Zéfiro), tivemos a honra de prefaciar o livro. Vamos recordar algumas passagens, sempre oportunas para manter bem presente que o filósofo ultrapassava o próprio ecletismo, a interdisciplinaridade ou mesmo a transdisciplinaridade, situando-se, sem titubear, na Tradição fosse através da Cabala, da Astrologia ou outra gnose. «Não deixa de soar estranho que, num país que tem uma longa tradição neste campo e que, à parte a velha dicotomia astronomia-astrologia, este conhecimento arcano que foi matéria essencial para levar a cabo o bem planeado «Projecto Áureo Português», seja ainda tabu, ou como diríamos hoje “culturalmente incorrecto”! Podemos dizer sem qualquer hesitação que António Telmo, enquanto filósofo, é um dos raros autores no que se tem chamado pensamento português (sobretudo do século XX, o que mais nos interessa agora), a tomar a astrologia não apenas como estudo em si mesmo, mas sobretudo na ordem maior da nossa tradição e destino, como o reflectiu em História Secreta de Portugal, Filosofia e Kabbalah, Horóscopo de Portugal e até em A Aventura Maçónica. Cremos que António Telmo sentiu uma necessidade vital da Astrologia, do mesmo modo que do estudo da Kabbalah, para melhor discernir a confluência das três grandes tradições entre nós». O filósofo tomou a sério a frase de Pessoa «a astrologia é verificável, se alguém se der ao trabalho de a verificar». Disso resultou o que todos sabemos e podemos ler numa das suas obras nucleares: O Horóscopo de Portugal. Assim, António Telmo, na busca sem limites, fez jus ao que, de outro modo ou noutra linguagem está escrito na sua pedra tumular: «É a Tua face que eu procuro, Senhor».

 (*) a designação de astronomia é sinónima de astrologia até ao séc. XVII com a expulsão desta das universidades europeias, o que não acarretou o corte do seu estudo e prática até hoje, verificando-se até, no presente, uma nova abordagem muitas vezes associada à psicologia e à medicina. O facto é que o conceito moderno de astronomia não nasceu do nada, sendo esta “filha” da astrologia.

 

Agosto 2022

INÉDITOS. 100

21-08-2022 00:11

Iniciação e gnoseologia[1]

 

Eu fui dos que leram[2] os quatro livros de Carlos Castaneda acreditando. Eu afirmo a realidade do mundo sensível. Acredito que independentemente de mim existem seres que não sou eu. Não sou, por tendência natural do meu espírito, um solipsista. Penso, porém, como Kant que a realidade das coisas, o seu eu real nos escapa. Divirjo de Kant, porque admito a possibilidade de adquirir órgãos, de desenvolver órgãos de conhecimento da realidade. Acho, pois, que as formas a priori da sensibilidade são modos entre muitos outros de apreender a realidade, mas, enquanto o espaço, o tempo e o número se interpõem entre o espírito e os nómenos, há outras formas de sensibilidade, desconhecidas de nós mas possíveis pela iniciação, que revelam as essências das coisas. Penso até que elas são inversas daquelas, que nós estamos voltados ao contrário: o espaço inverso é o aspecto negativo das coisas, o seu lugar; o tempo é o instante; o número é a qualidade.

 

António Telmo

 



[1] Nota do editor – O título é da nossa responsabilidade.

[2] Nota do editor – No original manuscrito, certamente por lapso, surge “li”.

 

EDITORIAL. 27

21-08-2022 00:02

Publicar, estudar, conhecer

 

Doze anos após a sua partida para a grande viagem, evocamos António Telmo publicando um seu apontamento inédito e um estudo de Eduardo Aroso sobre o lugar da astrologia, ciência sagrada, no seu pensamento filosófico. Se o espólio do filósofo da razão poética ainda guarda páginas inéditas em que fulgura o seu pensamento operativo, o estudo sistemático da sua obra impõe-se como modo evidente de potenciar um legado singular e original.  

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