VOZ PASSIVA. 78

26-09-2017 10:43

António Telmo – considerações sobre a praxis de um iniciado maçon

Rui Arimateia, M M

 

 

ANTÓNIO TELMO Carvalho Vitorino nasceu em Almeida a 2 de Maio de 1927 e faleceu em Évora a 21 de Agosto de 2010.

Foi iniciado Maçon na Resp\ L\ “Quinto Império” da G\L\R\P\, do Rito Escocês Rectificado, em Março de 1998 (E\V\) a Or\ de Lisboa. Foi elevado a M\ M\ em Dezembro do mesmo ano.

Sobre a sua passagem pela Ordem Maçónica, António Telmo deixou-nos inúmeros depoimentos, dispersos pelos seus escritos, nomeadamente os que inspiraram esta comunicação e publicados nos seguintes livros: “História Secreta de Portugal” (1977), “Congeminações de um Neopitagórico” (2006), “A Aventura Maçónica – Viagens à Volta de um Tapete” (2011) e “A Terra Prometida” (2014).

Diz-nos ele a certa altura o seguinte, n’Uma Prancha Maçónica:

“Tenho 71 anos. Sou, do ponto de vista profano, o mais velho da nossa respeitável Loja. Tenho 3 anos. Sou, do ponto de vista iniciático, o mais novo desta respeitável Loja. [p.107]

(…).

Pedi para ser iniciado e assim vim a pertencer a este admirável povo maçónico.

Emprego propositadamente a palavra povo. Todos sabemos como a verdadeira sabedoria se conserva e transmite, ao longo dos séculos, e dos milénios, através do povo. Os intelectuais que o têm governado e pretendido ensinar têm vindo a cindi-lo, pouco a pouco, dessa sabedoria. Afrancesaram-no ontem, americanizam-no hoje. O saber esotérico que os homens, as mulheres e as crianças receberam dos iniciados por um processo misterioso, que se conserva nas danças, nos cantos, nos adágios, nas festas, nos jogos e, sobretudo, na língua que ele criou, ele o povo, que dizem analfabeto, degenerou em folclore. (…).

(…).

Gosto de estar entre o povo maçónico e de ser um deles. Sinto que o sou de pleno direito, não porque perfilhe esta ou aquela ideologia, mas porque fui iniciado e passei pelo rito que me abriu a porta do Templo. Não é com orgulho que digo isto, mas sim para expressar que o que define um Mação enquanto Mação é a passagem pelo rito. Se há um ensinamento ou uma doutrina que todos nós devemos seguir e até aplicar no nosso campo de influência social, esse ensinamento ou essa doutrina derivam do próprio rito, onde as palavras, ritualmente proferidas, os tornam suficientemente claros.”  [p.109] 

[in “Uma Prancha Maçónica”, António Telmo, 2014, A Terra Prometida]

 

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*         *

Dizia Fernando Pessoa num dos seus poemas: “Não procures nem creias: tudo é oculto.”

Também dentro da Maçonaria o oculto impera. Por razões óbvias no que diz respeito à protecção de bens e pessoas devido a regimes totalitários. Por razões ritualísticas tendo em conta a característica iniciática da Ordem.

O Segredo Maçónico está oculto. Cabe a cada um dos Irmãos ou Irmãs desocultá-lo e transmiti-lo quando o momento chegar, compreendê-lo e manifestá-lo através da sua própria linguagem individual e da sua vivência na Loja e no Mundo.

Através dos séculos os Mestres Maçons de outrora conseguiram fazer transmitir aos Mestres Maçons de hoje os Sentidos inefáveis da Arte da Construção, imbuída de segredo maçónico! Este não foi violado, pois continua a fazer sentido através das Iniciações actuais, através de todo um trabalho ritualístico individual e colectivo. Segredo esse que consegue ser um cimento aglutinador de muitos e muitos maçons, unidos entre si e auxiliando na construção de um mundo melhor. Contudo é um segredo simples aquele que é recordado pelo Venerável Mestre em todas as sessões regulares de Loja, quando, reunida a assembleia de maçons na Cadeia de União ritual, transmite:

“Que o amor fraterno una todos os elos desta cadeia simbólica e seja o vínculo imperecível de todos os F\M\ no espaço e no tempo, ligando-nos indissoluvelmente pela tradição iniciática às gerações de irmãos e irmãs que nos precederam e que se prolongarão no futuro.

Estas mãos unidas simbolizam a aliança indestrutível de todos os F\M\ da Terra. (...).”

 

O assim denominado Segredo Maçónico encontra-se revelado: a recepção e a partilha do Amor Fraterno… resta aos Maçons vivê-lo e transmiti-lo!

Não posso deixar de referir a extraordinária mensagem de São João Evangelista, essência última da mensagem mais profunda da Religião Cristã: «Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que o daquele que dá a vida pelos amigos.” [“Evangelho Segundo São João”, XV-12]

Igualmente digno de interesse o trecho que podemos ler num Ritual de Iniciação maçónico: “Não se é iniciado pelos outros; iniciamo-nos nós mesmos”.

Voltando a António Telmo e a “Uma Prancha Maçónica”, diz-nos ele que:

 

“(…). Ensinou Aristóteles, na sua Arte Poética, que, nos mistérios de Elêusis, o neófito nada aprendia, mas recebia uma impressão. O ritmo interior que comanda o rito (não me refiro ao cerimonial, que pode ou não acompanhá-lo) envolve o neófito, durante a iniciação, no profundo e inefável mistério que por ele se exprime, envolve-o como uma onda, donde sai atordoado, mas limpo, prende-o numa cadeia magnética [a Egrégora] de que não se libertará jamais, a não ser por cima, se assim o quiser o Grande Arquitecto do Universo. É por isso que se diz que um Mação nunca deixará de o ser, mesmo que abandone a Ordem.(…). [p. 110]

 (…). Imaginemos o nosso espírito como um espelho (…). Para que o espírito, assim concebido como um espelho, receba a verdade são necessárias, pelo menos, três coisas. [1] É necessário que esteja limpo para que não receba turva e distorcida a imagem da verdade; [2] é necessário que entre ele e a verdade não se interponha nenhum obstáculo impeditivo da reflexão; [3] é necessário ainda que seja orientado na direcção da verdade. A iniciação no grau de Aprendiz realiza isto mesmo. A verdade é a luz que brilha no Oriente. Deixamos as jóias cá fora, isto é, as nossas convicções, a fim de que elas não se interponham entre o espelho e a luz da verdade; passamos pelas três regiões elementares, onde nos libertamos das sujidades mentais pelo fogo, das sentimentais pela água, das instintivas pela terra. Por fim, o nosso espírito, tornado uma matéria límpida perfeitamente disponível, é voltado para o Oriente. Pelo compromisso feito à maneira dos Maçãos, o espírito está pronto. Quando o espírito está pronto, a luz [o Mestre] aparece.(…).

(…). A arte é longa e a vida breve.” Ars longa, vita brevis. (…).” [p.111]

[in “Uma Prancha Maçónica”, António Telmo, 2014, A Terra Prometida ]

 

Diga-se de passagem que, em todos os graus maçónicos é sobretudo o conhecimento de Si-Mesmo que é ensinado ao maçon em demanda. E, no mesmo Ritual, mais à frente, vamos encontrar um outro trecho que diz: “O iniciado está só ou, mais exactamente, é único, pois nenhum homem evolui em lugar de outro.”

Para procurarmos e eventualmente encontrarmos o Caminho da Verdadeira Luz, que está oculta, será necessário sabermos o que procurar – procurar “o que importa” – e sabermos o que procurar irá inevitavelmente levar-nos a uma abordagem do real na zona do Auto-Conhecimento, onde a compreensão dos problemas da vida e da morte é indispensável para que alguém se possa situar plenamente, e de facto, na Senda de uma autêntica Busca Espiritual e Maçónica.

Vida e Morte… conceitos que desde a sua Iniciação no Grau de Aprendiz não são estranhos aos Maçons... mas que se vão complexificando durante a peregrinação no Caminho maçónico.

No entanto, há que sublinhar devidamente, este Conhecimento, portador da Verdade e que confere a Libertação e a Paz ao ser humano, “comprometido” com a Sageza das Idades, é incomensurável, omni-abarcante, não limitado, mas só poderá ser percebido pelos que o querem e ousam perceber.

A Demanda começa em cada um de nós. Deus, Aquilo-que-se-quiser-chamar, o fim último da Iniciação, a Luz, o Grande Arquitecto Do Universo, tão procurado, tão aspirado, reside, de facto, em nós próprios. Como é afirmado no Chandogya Upanishad (III-14):

“Este Atman que reside no coração, é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de alpista; este Atman, que reside no coração, é ao mesmo tempo, maior que a Terra, maior que a atmosfera, maior que o céu, maior que todos os mundos reunidos.”

Também Paracelso o afirmou: “Trazemos em nós o centro da natureza.”

Assim, cada um de nós é realmente um centro que efectua a ligação do Céu à Terra através da sua própria escada mística, mais ou menos conscientemente, com mais ou menos intensidade, mas em permanente busca e em contínua evolução.

Neste centro interior e íntimo, poderá, apesar de tudo dominar a cerceadora dualidade da condição humana manifestando-se pelo sofrimento ou pela felicidade, pela paz ou pela guerra, pelo amor ou pelo ódio!... Mas também nesse centro poderemos encontrar e vivenciar a Unidade da Vida e então achamo-nos subitamente num estado onde não é possível encontrar quaisquer referências para se compararem os complementares, para se olharem as contradições, para se apontarem os conceitos antagónicos. Será, no fundo, através deste estado, que acontece uma real percepção da Totalidade, uma autêntica consciencialização da Unidade, da Vida e da Morte, verdadeiros leit-motiv de todo o labor e busca maçónicos. Lembremo-nos do seguinte poema de Fernando Pessoa, que nos aponta o caminho a seguir…

 

                        Oscila o incensório antigo

                        Em fendas e ouro ornamental.

                        Sem atenção, absorto sigo

                         Os passos lentos do ritual.

 

                        Mas são os braços invisíveis

                        E são os cantos que não são

                         E os incensórios de outros níveis

                         Que vê e ouve o coração.

 

                         Ah, sempre que o ritual acerta

                        Seus passos e seus ritmos bem,

                        O ritual que não há desperta

                        E a alma é o que é, não o que tem.

 

                         Oscila o incensório visto,

                         Ouvidos cantos estão no ar,

                         Mas o ritual a que eu assisto

                        É um ritual de relembrar.

 

                        No grande Templo antenatal,

                         Antes de vida e alma e Deus...

                        E o xadrez do chão ritual

                                    É o que é hoje a terra e os céus...

 

22-9-1932

Fernando Pessoa. Poesias Inéditas (1930-1935). .

 Lisboa: Ática, 1955

 

Sobre Fernando Pessoa e a Maçonaria, deixou-nos António Telmo um importante depoimento na sua História Secreta de Portugal:

“(…).

Fernando Pessoa foi o nosso primeiro poeta maçónico e toda a sua obra poética pode e deve ser interpretada como a expressão da viagem iniciática da alma num adepto que não se limita a cumprir os ritos e a estudar o dogma, mas desse cumprimento e desse estudo tira todas as consequências nos vários planos de vivência do ser. Assim, os heterónimos podem ser vistos como uma aplicação do «dom das línguas» ou um exercício destinado a produzir esse dom; a maioria dos poemas constituem o desenvolvimento de ensinamentos maçónicos e, por vezes, o próprio Fernando Pessoa não deixa de o assinalar por meio de epígrafes (caso do Eros e Psiche e de No Túmulo de Christian Rosencreutz); outros ainda, como por exemplo A Múmia, são a transposição poética da experiência de determinado ritual.

(…).

A obra de Fernando Pessoa vale não só por si, mas também por marcar um comportamento maçónico excepcional no seu tempo. Através dele, a Maçonaria regressa à sua origem ou, pelo menos, aparece como a legítima continuadora da Ordem do templo. (…).

Pela Mensagem, Fernando Pessoa rectifica, à luz de princípios maçónicos recuperados, a história de Portugal. (…).”     

[in Telmo, 1977, pp.116-118].

A dramatização ritualística na Maçonaria é constituída por pensamento e sonho, no sentido de construção de um Arquétipo Sagrado, de uma Egrégora. No fundo trata-se de construir em nós mesmos um templo e um tempo originais, no sentido mítico e espiritual. Através do jogo da dramatização, connosco próprios e com o outro, abrimos canais psicológicos que permitirão o fluir de energias vivificadoras e transformadoras cujo resultado será a assunção do homem novo, neste caso do maçon, do construtor, do seguidor do Mestre Hiram, o vencedor da morte!

A palavra ritual, no fundo não tem forma cristalizada, antes remete para uma linguagem única e universal que cada maçon, no acto de escutar, no acto autêntico e criador da atenção ritualística, transforma em vivência e em Amor.

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Dizia-nos há algum tempo o eminente médico Daniel Serrão, num dos seus escritos que: “O futuro do Homem é viver num Universo colectivo de inteligências comunicantes onde não haverá nem mestres que ensinem, nem discípulos que aprendam. Todos aprenderão com todos.” 

A frase anterior poderia constituir uma das ideias-força do pensamento não só de António Telmo mas também de Agostinho da Silva e de toda uma plêiade de escritores e de pensadores que honram com os seus trabalhos e reflexões a língua e a filosofia portuguesas, e onde poderemos adivinhar, latente, a famosa tríade da Revolução Francesa e adoptada pela Franco-Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

António Telmo, foi de facto um homem livre e de livre pensamento ao serviço da Obra!

A imensa riqueza do legado filosófico de Telmo é, de facto, a constatação da liberdade que nos dá para até ele chegarmos e a surpresa que experimentamos quando reconhecemos que, no final da Obra, estaremos todos de mãos dadas, tal Cadeia de União Simbólica, porque a sua finalidade última, é o Encontro com a Unidade e a Unicidade da Vida e a certeza de que a Vida vencerá a Morte!

Assim, olhando com “olhos de ver” a obra de António Telmo, intuímos que se encontra “contaminada” com a tríade filosófica atrás referida – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – que imediatamente nos coloca num registo de compreensão enquadrada numa “Escola de Pensamento” cujo fio condutor nos leva pelo menos até aos antigos Mistérios da Filosofia Perene da Idade Média, de Roma e da Grécia… a Escola Universal dos Livres Pensadores Franco Maçons.

António Telmo compreendeu realmente a importância da iniciação, do mistério, do segredo e do silêncio em Maçonaria, quando nos refere, na sua História Secreta de Portugal, que estamos “num mundo onde a presença do mistério impõe que nada se possa realmente saber fora dos termos desse mistério. Assim, os mais lúcidos e imprudentes não desistiam de procurar a palavra perdida da Sabedoria.”

Que, acrescento, será coincidente com a palavra perdida dos maçons, cujo objectivo último de cada um será o seu reencontro com essa Palavra Perdida... a Palavra Divina, segundo Fernando Pessoa. Atentemos à profunda máxima Socrática: “Homem, conhece-te a ti próprio! E, conhecendo-te, conhecerás o Universo e os próprios Deuses!”.

Num outro texto de António Telmo, poderemos ler:

“(...) É espantoso como foi possível conservar, ao longo dos séculos, inalteráveis, no que lhes é essencial, ritos e símbolos maçónicos, quando enormes forças, cá dentro como lá fora, tudo têm feito para os adulterar e corromper! (...).”

[in Telmo, A Terra Prometida, 2014, pág.108]

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*         *

António Telmo, como era seu costume com todas as filosofias que abordava, enquanto Maçon foi autocrítico em relação à própria práxis maçónica que conhecia.

Interessante este Diálogo entre Frei Anselmo e Noviço, que ele nos deixou e que foi publicado na “Aventura Maçónica”:

“(...).

Lês, escreves e isso está bem. No resto do tempo que te fica, procedes como toda a gente, como um autómato. Deixas-te emporcalhar pelos jornais e pela televisão. É um “deixa andar” continuado. De nada serviu termos-te conduzido para uma agremiação de neopitagóricos, onde simbolicamente desceste ao reino das trevas e daí te ergueste para a luz.

Falas com as pessoas como se elas não tivessem rosto; se atentasses, como é devido, na forma do rosto daquele ou daquela com quem conversas, se chegasses a ver nele a expressão de um mistério e de uma luz que, por dentro, ilumina esse mistério, não darias tanta importância ao que não és, àquilo em que és igual a todos os outros.

(...).”

[in Telmo, 2011, p. 27]

António Telmo, tal como Fernando Pessoa, tinham semelhante opinião acerca da Iniciação: uma vez maçon, sempre maçon; uma vez Iniciado, para sempre Iniciado.

Declarava António Telmo que:

            (...). Na Loja estamos perante um mistério, mais do que isso, fazemos parte desse mistério. Emprego a palavra mistério no seu sentido original e não na acepção que popularmente recebeu de insólito e contrário ao curso natural dos fenómenos. No seu sentido original, a palavra deve ser referida à sua raíz mu, comum a outras palavras como mudo, murmúrio, mito e místico. Ao pronunciarmos o fonema m, fechamos os lábios. Fechamos a entrada da caverna bucal, que é o lugar do Verbo. (...).

Tendo em conta esta etimologia de mistério, não é difícil ver que o ensino aqui se faz pelo silêncio, um silêncio que se torna significativo, no que ele tem de mais profundo, pelas indicações subtis, por aquilo que há de menos discursivo nos ritos e nos símbolos. Os sinais, os toques, as letras e os nomes são talvez o que melhor exprime o que pretendo significar com o termo de “indicações subtis.

(...).”   [pp.63-64].

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 (...). Toda a simbólica da iniciação até à recepção da Luz mostra-nos que devemos considerar aqueles que nos guiam por entre obstáculos no meio das trevas, não como indivíduos, mas como personalidades representativas do que há de mais interior e de mais profundo em nós. Durante a minha iniciação, senti-os como os senhores do caminho e não como homens de carne e osso. (...).

A passagem do mundo profano para o mundo sagrado constitui o momento que decide de tudo. É um começo de que se pode tomar consciência no domínio do ser pela percepção de que se ficou definitivamente ligado à “única coisa que importa”. (...).

No começo é que está tudo. E aqueles que, depois de terem recebido a iniciação, se esquecem de a renovar em si por um acto interior do espírito, são como alguém que acordou para a manhã e se deixou adormecer de novo, trazendo para a vivência do dia todo o sono que julgaria ter deixado na cama. Todo o percurso iniciático, do primeiro ao último grau, se lhe quisermos atribuir alguma realidade, terá de ser visto como um renovar, por entre descontinuidades, do começo. Começo esse que pode ser reproduzido lá fora pela presença a si próprio nos vários momentos da vida, sobretudo naqueles que parecem mais distantes da “única coisa que importa.     

(...).  [pp.80-81].

(...) Cada Maçon é um Templo, por isso, onde quer que esteja, está o Templo. Não devemos, portanto, reduzir ao trabalho de Loja a nossa actividade, dividindo-nos em dois comportamentos, um exterior e outro interior, como se, uma vez lá fora, já não existisse “o que mais importa”. Tal atitude, comum a muitos Maçons pouco esclarecidos, leva a acentuar a dualidade que julgávamos ter sido resolvida pela Iniciação. Eis porque me parece oportuno o seguinte conselho: na Loja, devemos subordinar o nosso interior ao que se passa exteriormente; fora da Loja, pelo contrário, subordinar o que se passa exteriormente ao nosso interior. Há um ensinamento oriental que diz o seguinte:

As aves, mesmo quando andam longe dos ovos, continuam a chocá-los.

(…).” 

[in Telmo, 2011, p.83]

Como corolário deste conjunto de reflexões Télmicas sobre a Iniciação e sobre o ensinar e o aprender nesta Escola de Vida, que é a Maçonaria Universal, terminava com as sábias palavras da grande sabedoria da Tradição Africana, afirmadas por Tierno Bokar Salif, da Ordem Muçulmana de Tijaniyya, de Bandiagara no Mali:

 

“Se queres saber quem sou,

Se queres que te ensine o que sei,

Deixa um pouco de ser o que tu és

E esquece o que sabes.”

 

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BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

 

1.       MARTINS, Pedro – UM ANTÓNIO TELMO – MARRANISMO, KABBALAH E MAÇONARIA, ‘Colecção Thomé Nathanael’, Zéfiro-Edições e Actividades Culturais, L.da, Sintra, 2015.

 

2.       TELMO, António – A AVENTURA MAÇÓNICA – VIAGENS À VOLTA DE UM TAPETE, ‘Hyram Colecção Maçónica’, Zéfiro-Edições e Actividades Culturais, L.da, Sintra, 2011.

 

3.       TELMO, António – A TERRA PROMETIDA – MAÇONARIA, KABBALAH, MARTINISMO & QUINTO IMPÉRIO, ‘Obras Completas de António Telmo’, Volume I, Zéfiro-Edições e Actividades Culturais, L.da, Sintra, 2014.

 

4.       TELMO, António – CONGEMINAÇÕES DE UM NEOPITAGÓRICO, Ed. Al-Barzakh, Vale de Lázaro, 2006.

 

5.       TELMO, António – HISTÓRIA SECRETA DE PORTUGAL, Col. ‘Janus’ n.º6, Editorial Vega, Lisboa, 1977.

 

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Rui Arimateia (M\M\), a Or\ de Évora, 21 de Setembro de 2017 (E\