VOZ PASSIVA. 68

15-03-2016 17:18

Publicamos hoje o texto da palestra proferida por Maria Helena Carvalho dos Santos na sessão inaugural do ciclo As Artes da Misteriosofia, que teve lugar no passado dia 21 de Janeiro na Livraria Barata, em Lisboa.

Encontro com António Telmo na Maçonaria?

Trata-se de uma interrogação…

Maria Helena Carvalho dos Santos

 

AGRADECIMENTOS

Era uma vez …. Dois primos que nunca se conheceram pessoalmente. Um era o António Telmo. O outro era eu!

Mas se foi assim, e agora estou a tentar descobri-lo, quando ele já passou ao Oriente Eterno, só me resta ouvir os seus e meus amigos e ler os seus livros.

Especialmente o Pedro Martins ofereceu-me uns quantos volumes e fui adquirindo o que está disponível, lendo, estudando, como se faz  com um Dante ou um Camões , ficando por aprofundar o que já não pode ser lido, dito ou replicado ou contestado ou perguntado….

Por exemplo, conheço melhor o Agostinho da Silva, porque o li ainda na escola primária (isto é mesmo verdade!) e o conheci em Lisboa e ajudei a tratar-lhe do Bilhete de Identidade quando ele só tinha o passaporte brasileiro…

Com o António Telmo está a ser diferente, mais apaixonante e mais difícil porque devo chegar a ele depressa, quase em obsessão, lendo e relendo… para o conhecer, para saber o que ele pensava das coisas do mundo da Filosofia e da Maçonaria. Ainda ontem passei a tarde toda à volta das 4 estrelas que o Dante descreveu e que o António Telmo interpretou…  (in Aventura Maçónica,p.35), mas as quatro estrelas da Carta do Achamento do Brasil, são de 1500 – como é que o Dante fala delas e o Telmo lá chegou? Será uma LIBERDADE de poeta escrever:

                   “Ó região do Norte, tu que não podes contemplar os

astros resplandecentes do Cruzeiro do Sul, como eu te

lamento na tua viuvez!” (Na tradução de Telmo)

E no meu papel de estudiosa habituada à pesquisa rigorosa da História, devo pensar apenas que na Maçonaria tudo é símbolo? Então se Dante falou de quatro estrelas porque é que Telmo as reconverte no Cruzeiro do Sul? – se ele, logo a seguir explica que há três princípios fundamentais – o fogo, a água e a terra – mas pretende acrescentar-lhe o quarto, isto é, o ar – como não podia deixar de ser porque é “ele mesmo que situa”, é a verdadeira origem ou “o verdadeiro Oriente”.

 

Então porquê o Cruzeiro do Sul? – É que Telmo vai sempre mais atrás, para ver mais longe – como ele escreve na página seguinte (pag.40) :” Em ciência sagrada, sempre que deparamos com uma evidente contradição, evidente ou aparente, julgo dever pensar que há uma coisa importante e muito decisiva que se esconde à nossa compreensão e que, uma vez apreendida, traz ao nosso espírito uma luz inesperada. A ciência sagrada (isto é, a Maçonaria) não pode enganar-se a si mesma.“ E quem lhe explicou isso, a ele, a Telmo? – simplesmente “o que se representa no lado sul do claustro dos Jerónimos”. Porque a luz vem do Oriente! – Que luz, que Oriente? Esse constante perguntar é o que conduz Dante, para lá das aparências sensíveis. O ar não é apenas o que dá a vida e o Oriente não é apenas o que se desenha nos mapas.

Mas os maçons ou os arquitetos de quinhentos já sabiam outras coisas. É por isso que eles constroem monumentos, porque nos devem re-ensinar o que aprendemos mal, ou, dito de outra forma, nos ensinam a ler uma nova /outra linguagem.

Ou os povos, enquanto não tiveram escrita, não sabiam olhar as estrelas, entendê-las? E não sabiam quando fazer as sementeiras? E os canteiros e os arquitectos – como sabiam que a ogiva não ia cair? Todos nós, os portugueses, aprendemos a velha história do arquitecto construtor do monumento da Batalha – e, sozinho, dormiu lá na primeira noite… E isso, porque não se copiavam… Todas as grandes construções, CASTELOS, MOSTEIROS, IGREJAS, Almeida (com o Livro da Fortalezas de Duarte d’ARMAS de 1500), Alcobaça, Tomar, os Jerónimos todos marcam uma intenção, uma necessidade e uma evolução nas artes dos maçons – isto é, o mundo não tinha parado e a Arte da Construção não podia ser igual para os tempos vindouros. E tanto que construíam entre os segredos da Arte e a interpretação do mundo que queriam fixar, cada um deixou um exemplar diferente e raro, como início de um tempo. Permitam um parêntesis: Na Gramática de Telmo não me lembro de encontrar TEMPO e TEMPLO com a mesma raiz – e hoje não lhe podemos perguntar!

Mas podemos ler, por exemplo, que a porta de entrada da Igreja do Convento de Cristo em Tomar é a única que está virada para Sul, sendo que a norma seria estar virada para Ocidente (de onde nasce o Sol). E nos Jerónimos, embora se entre num átrio aberto, o grande portal está virado também a Sul. O estilo chamado manuelino podia ser novo só pela decoração das fantásticas colunas?... ou também nos fundamentos e simbólica? O mar “descia” para Sul… esse era o caminho… e o segredo… Na verdade não há nenhum estilo columbiano! Procurava-se outro Sol no Sul extremo – de onde se haviam de ver outras estrelas? Seria?

Há já muitos anos tive por guia aos Jerónimos Mestre Lagoa Henriques que depois me fez uma aula para ao meus alunos… Como também foi com o Mestre António Carlos Carvalho, meu velhíssimo amigo, que re-descobri o Mosteiro de Alcobaça. É preciso ouvir os mestres, como Aristóteles ouvia Platão e nós os podemos recriar – talvez sobre o grande quadro de Rafael – que todos conhecemos como a Escola de Atenas

 


A obra talvez possa resumir as filosofias de Platão e Aristóteles. Platão aponta para cima, para o mundo inteligível que considera ser o real; Aristóteles aponta para baixo, para o mundo sensível que considera ser o único que existe.

Para Platão, só o mundo inteligível é real enquanto que o sensível é transitório e ilusório

Aristóteles (384-322 a.C.) discípulo de Platão, nunca aceitou essa ideia de dois mundos distintos. Para Aristóteles só havia um mundo: este em que nos encontramos. Se o homem não consegue conhecer algo mais do que os seus sentidos lhe mostram, então é porque esse algo não existe ou, na melhor das hipóteses, não vale a pena ser conhecido e por isso não é nada para nós.

Platão propõe uma ética transcendente, dado que o fundamento de sua proposta ética não é a realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as relações humanas, mas sim o mundo inteligível. O filósofo centra as suas indagações na Ideia perfeita, boa e justa que organiza a sociedade e dirige a conduta humana. As Ideias formam a realidade platónica e são os modelos segundo os quais os homens têm os seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das ideias, das essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social.

A ética aristotélica, em oposição à ética de seu mestre, é imanente, tendo as suas bases na realidade empírica do mundo, no questionamento acerca das condutas humanas e na organização social. As exigências com relação à vida na polis e a realidade do homem formam o conteúdo das ideias, e são ambas as responsáveis pela escolha dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela definição das condutas dos homens. A sua teoria ética era realista, empirista em contrapartida à visão idealista e racionalista de Platão.

A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade.

 

Há uns meses, num grupo que se apelidou dos “Amigos de Platão”, e que se reúne num banquete de dois em dois meses, resolvi colocar a nossa actualíssima questão da educação, da cultura, da violência e da INDISCIPLINA. Repesquei alguns “bonecos” da internet, mas depois de ter confrontado os dois filósofos, terminei, colocando uma imaginária fala de Platão:

Platão, de pés descalços, como o imaginou RAFAEL, diz:

Tu podes descobrir mais sobre uma pessoa numa hora de brincadeira do que num ano de conversa…Não deveríamos educar os educadores?

Faz uma pausa e continua:

- Tenho tudo preparado para o nosso Banquete. Queria introduzir algumas ideias sobre JUSTIÇA ….

      … e sobre indisciplina. Estou preocupado com as crianças….

 

Pelo meu lado, a minha preocupação era “entrar” para a Maçonaria. Era um sonho de juventude – porque é que só os Homens tinham essa prerrogativa? Era como o Banquete dos Gregos? Pensava que devia ser… o simbolismo devia ser isso…E quando foi possível eu própria fui passando de Aprendiz a Mestre.

Mais tarde ouvi uma única conferência a mestre Lima de Freitas sobre os Lusíadas. Na altura, foi há muitos anos, em Tomar, ele falava uma linguagem difícil. Isto é, ele via as coisas de outra maneira, indutiva e dedutiva ao mesmo tempo, porque ele já tinha encontrado o segredo… Se entendi as alturas do seu pensamento, o que mais me perturbou foi o ponto de chegada – ou talvez o ponto de partida, re-escrevo, porque é na primeira pergunta que se inicia o caminho.

Agora chegou a vez de falar da Maçonaria Feminina em Portugal. Estava-se em 1983-84. Apesar de aceite, pedi entretanto para entrar apenas em 1985 – porque depois dos primeiros contactos com II:. francesas, fui para o governo e achei que não devia entrar nessas circunstâncias. Não sei se hoje tomaria essa atitude, mas na altura pareceu-me o mais correcto. Pensei que era assim que devia ser: independente em todos os sentidos…

Era um sonho velho, velhíssimo, porque o meu Pai, os meus tios, o meu Avô e os seus amigos que eu fui conhecendo eram da Maçonaria. Isso eu sabia, porque sabia – e toda a gente sabia, a pesar de todos os perigos que isso podia constituir e constituiu para muitos… mas eles faziam, entre outras reuniões secretas de que dava conta, o almoço do 5 de Outubro em Santa Cruz, Torres Vedras que depois de meu pai morrer, passou a ser jantar em Alenquer… até hoje. E vi o primeiro avental de Grão-Mestre na foto de Norton de Matos ao tempo da sua candidatura à presidência da República… Eu andava no 3º ano do Liceu e tive que levar um grupo de colegas, rapazes e raparigas, à Biblioteca da Escola Secundária de Torres Vedras para que um dicionário não os deixasse duvidar do que eu não sabia explicar… Afinal, a Maçonaria “era” uma organização filantrópica… e muito antiga… Era o que dizia o dicionário nas primeiras linhas – suficientes para toda a gente deixar de falar de coisas esquisitas relativamente ao avental.

Eu queria absolutamente entrar e quem me tinha aberto as portas fora o Prof. Oliveira Maques, trabalhando ambos na Universidade Nova de Lisboa.

Acho que ninguém era mais ignorante do que eu! Acho mesmo. Eu não tinha tido tempo, nem sentira necessidade de investigar o que quer que fosse. Sabia coisas da História, do Felizmente há Luar e do Processo de 1817, e tinha lido por dever de ofício os quatro volumes de Silva Dias que fora meu Professor em Coimbra. Mas ele também diz pouco, porque a investigação tradicional não lhe permitia mais pelos anos de 1972-75…

Quer dizer: eu não sabia verdadeiramente nada. Apesar disso entrava de coração aberto, disponível para cerimónias complicadas que fossem. Se os maçons eram aquela gente que eu conhecia, e as mulheres francesas que eu conhecera nos primeiros inquéritos profaníssimos, só me mereciam confiança!

E para me confessar depressa, direi que para lá do ano previsto de aprendiz eu fiz dois anos! Por penitência, por falta de humildade! Aguentei!

Na minha Loja havia uma certa ideia de convento à século XVIII, nada melhor para a minha rebeldia. E depois fui Companheira e Mestre e Grã-Mestre e deram-me uma medalha pelos 20 anos de Maçonaria. Depois disso tudo mudei de Grande Loja, cumprindo com as regras. O resto nunca foi nem tem rotina, nem descrença – embora por vezes o desencanto espreitasse…

E foi o António Telmo que agora, num momento de quase crise, me veio salvar dessa rotina … trouxe-me outra vez o desassossego, o interesse. Recuperei o espírito, já não a confiança nos outros, mas a obrigação de ser Mestre a tempo inteiro, ultrapassando cada dia a tragédia de matar o mestre… Porque eu tenho mau feitio…

Aqui, hoje, conto esta historinha pela primeira vez, ainda que admita que aqui possam estar alguns não-maçons, mas conto-o com o mesmo à-vontade com que o Telmo me ouviria – e certamente, me diria, deixa lá isso – isso não tem importância nenhuma… o teu coração é puro, a maçonaria só te trouxe conhecimento, e te fez pensar. Claro que era isso que ele diria. E mais: diria que “Cada Maçon é um Templo!”, (pag. 83), acrescentando: “Não devemos, portanto, reduzir ao trabalho de Loja a nossa actividade, dividindo-nos em dois comportamentos, um exterior e outro interior, como se, uma vez lá fora, já não existisse “o que mais importa”. Ele continuaria: “ Tal atitude, comum a muitos Maçons pouco esclarecidos, leva a acentuar a dualidade que julgávamos ter sido resolvida pela Iniciação” (pág. 83) . E acrescentaria: “Fora da loja devemos subordinar o que se passa exteriormente ao nosso interior”. E continua, com a sabedoria oriental: As aves, mesmo quando andam longe dos ovos, continuam a chocá-los”.

Seria assim, certamente, mas diria mais: só é capaz de ser prudente aquele que se ergueu da morte para uma vida nova, aquele que foi levantado das trevas e viu que a Loja brilhava com uma nova Luz (pag.71) e digo eu, se for um sonho, acordará com um ramo de acácia nas mãos.

Vergílio e Dante já me tinham dito que não se pode olhar para trás. O caminho é para ser feito e revejo-me nos mistérios de Eleusis. Quando lá estive imaginei uma mulher, talvez Deméter, que deitara uma semente à terra e ficara à espera que dela renascesse o milagre dos pães! Todos os anos, entre o Equinócio e o Solstício.

   Permitam-me agora que faça por minha iniciativa umas contas e uma numerologias como se aprendesse com Telmo:

 

1997 – entrou na maçon – tinha 70 anos – TELMO

Em 1997 eu tinha = 62 – ele tinha 12 anos mais do que eu

Ele era mais velho que eu – nascera em 1927 e eu em 1935 –

Tinha 12 anos mais do que eu

 

Qual será o simbolismo do número 12?

 

Tentei procurar: Diz quem sabe:


“Trata-se de um número sagrado e serve para medir os corpos celestes, assim como os doze meses do ano. Doze foram os discípulos de Jesus, 12 os frutos do Espírito Santo, 12 as tribos de Israel, 12 os filhos de Jacob, 12 vezes apareceu Jesus Cristo depois de morto”. 


O 12 considera-se passivo e é sinónimo da perfeição. Doze vezes 30 graus formam os 360 graus da circunferência. 


Os caldeus, os etruscos e os romanos dividiam a seus deuses em 12 grupos. O deus Odin escandinavo tinha 12 nomes, do mesmo modo que os rabinos sustentavam antigamente que o nome de Deus se compunha de 12 letras. Adão e Eva foram expulsos do Paraíso às 12 horas do meio dia. São 12 as pedras preciosas da Coroa da Inglaterra, 12 as portas da cidade de Jerusalém e 12 os anjos que as custodiavam, segundo o Apocalipse.

Segundo João, o Evangelista, em Jerusalém viverão 12 mil homens eleitos.

Para os etruscos o céu tinha 12 divisões pelas quais o sol passava todos os dias, e dividiam suas possessões em 12 províncias. 12 é a hora do zénite do sol e 12 é o número da esfera do relógio. Platão admitia 12 deuses na sua República. O 12 será o número do justo equilíbrio, da prudência, e da forma graciosa

 

Copio TELMO: - Pedi para ser iniciada e assim vim a pertencer a esse admirável povo maçónico.

Também eu tive a sorte de conhecer um verdadeiro Maçon: o José Manuel Anes – somos Irmãos em Lojas distintas.

Digo como Telmo escreveu: - Podemos não compreender o que de mais fundo significam ritos e símbolos, mas não há um gesto, uma palavra, um movimento que não sejam cumpridos como se obedecêssemos a uma ordem, não há gesto, palavra, movimento em que o espírito da Ordem Maçónica não esteja presente mandando tudo. Assim procede o nobre povo maçónico. A sua ignorância é a sua sabedoria, porque só quem tem consciência de ignorar pode vir a saber.

E direi mais, copiando-o, porque Telmo adivinhou a minha sensibilidade e nas suas palavras nos faz re-viver momentos permanentemente presentes. Ele deixou-nos esta expressiva síntese:

 

Gosto de estar entre o povo maçónico e de ser um deles. Sinto que o sou de pleno direito, não porque perfilhe esta ou aquela ideologia, mas porque fui iniciado e passei pelo rito que me abriu a porta do Templo. Não é com orgulho que digo isto, mas sim para expressar que o que define um Mação enquanto Mação é a passagem pelo rito. Se há um ensinamento ou uma doutrina que todos nós devemos seguir e até aplicar no nosso campo de influência social, esse ensinamento ou essa doutrina derivam do próprio rito, onde as palavras, ritualmente proferidas, os tornam suficientemente claros.

É tal a força do rito que mesmo aqueles que o têm por uma palhaçada e que, deixando-se iniciar, passaram por ele talvez indiferentes, orgulhosos do que aprenderam ao longo da vida em quaisquer livros ou em qualquer Universidade, também esses foram impressionados. Ao empregar esta palavra tomo-a no sentido que ela tem, por exemplo, em fotografia ou em tipografia; não a tomo no sentido de emocionados. O ritmo interior que comanda o rito (não me refiro ao cerimonial, que pode ou não acompanhá-lo) envolve o neófito, durante a iniciação, no profundo e inefável mistério que por ele se exprime, envolve-o como uma onda, donde sai atordoado, mas limpo, prende-o numa cadeia magnética de que não se libertará jamais, a não ser por cima, se assim o quiser o Grande Arquitecto do Universo. É por isso que se diz que um Mação nunca deixará de o ser, mesmo que abandone a Ordem.

Podeis assim ver, meus Irmãos, como eu estava errado e estão todos aqueles que julgam a Maçonaria pelos Maçons. É que não há nenhum, por mais superficial e irregular que seja a sua interpretação da nossa augusta Ordem, que não esteja marcado pelo seu sinal, que não seja um “varão assinalado”.

Imaginemos o nosso espírito como um espelho, não como um aparelho produtor de formações mentais, que é a habitual e errada representação que se faz do espírito, assim o confundindo com o aspecto cerebral da alma ou do corpo se preferirdes. Para que o espírito, assim concebido como um espelho, receba a verdade são necessárias, pelo menos, três coisas. É necessário que esteja limpo para que não receba turva e distorcida a imagem da verdade; é necessário que entre ele e a verdade não se interponha nenhum obstáculo impeditivo da reflexão; é necessário ainda que seja orientado na direcção da verdade. A iniciação no grau de Aprendiz realiza isto mesmo. A verdade é a luz que brilha no Oriente. Deixamos as joias cá fora, isto é, as nossas convicções, a fim de que elas não se interponham entre o espelho e a luz da verdade; passamos pelas três regiões elementares, onde nos libertamos das sujidades mentais pelo fogo, das sentimentais pela água, das instintivas pela terra. Por fim, o nosso espírito, tornado uma matéria límpida perfeitamente disponível, é voltado para o Oriente. Pelo compromisso feito à maneira dos Maçons, o espírito está pronto. Quando o espírito está pronto, a luz aparece.

 “A arte é longa e a vida breve.” Ars longa, vita brevis. Este lema, que os iniciadores de Goethe extraíram de uma ode de Horácio para a carta de aprendizagem do grande poeta alemão, se eu pudesse adoptá-lo fazendo-o meu, sentir-me-ia simultaneamente infeliz e feliz. Infeliz porque tenho 71 anos e a morte à minha frente; feliz porque tenho três anos e à minha frente a vida. Aos Mestres desta respeitável Loja, que me iniciaram, a devo.”


Este seria o encontro que nunca tive com António Telmo, mas nem por isso é menos real. Ele me entenderá nesse lugar de nenhures onde ele verá que caminho em torno do tapete, como deve ser.

A Justiça – onde fica?

… conduziram-no, ao cair da noite, para o Monte Moriah, onde o enterraram, assinalando a sepultura com um ramo de acácia…

 

Ainda outro tema que seria caro a António Telmo:

A nossa Avó, que eu conheço pelo nome de ANELEH, era descendente dos judeus de Pinhel. O Orlando, numa ocasião ou outra, chamava-lhe “judia” para a fazer zangar. Aneleh todos os anos mandava levar à Igreja uma quantidade de azeite de colheita própria que devia iluminar o Espírito Santo até ao próximo outono. Tenho “remorsos” de ter deixado perder essa prática marrana.

 

 

21 de Janeiro de 6016