VOZ PASSIVA. 43

27-02-2015 18:00


Sobre António Telmo e Teixeira de Pascoaes, a propósito de uma afirmação de Miguel Bruno Duarte

Pedro Martins

 

A propósito de António Telmo e Teixeira de Pascoaes, Miguel Bruno Duarte identifica-me num texto que publicou em 20 de Maio de 2013 na sua página na Internet, Liceu Aristotélico. Passo a transcrever:

 

«... Os valiosos estudos da obra de Pascoaes que até agora têm vindo a ser feitos por pensadores da tradição portuguesa, os estudos de um Afonso Botelho, de um António Cândido Franco, de um Manuel Patrício, de um Paulo Borges ou de um Pedro Sinde, se obedeceram à preocupação de situar essa obra no quadro da nossa filosofia, nem sempre o fizeram de acordo com o conceito de filosofia portuguesa, e de tudo o que nela se implica, tal como foi formulado por Álvaro Ribeiro, o mestre entre nós dos que sabem...» [Curiosamente, o kabbalista de Estremoz esquecera-se de mencionar, entre aqueles autores, o caso do socialista maçon Pedro Martins].  

António Telmo (Prefácio ao volume 21 das Obras de Teixeira de Pascoaes - Assírio & Alvim, 2002).

 

Curiosamente, atribuindo-me os epítetos de socialista e de maçon – quanto ao primeiro, num determinado sentido, e ao lado de um Sampaio Bruno, de um Teixeira de Pascoaes ou de um Agostinho da Silva, não o enjeito; quanto ao segundo, não o confirmo nem o desminto, mas desde já, ao lado de um António Telmo, protesto a minha adesão ao ideário da Arte Real -, Miguel Bruno Duarte opera, como o leitor pôde constatar, ligação para um artigo que dei à estampa em Agosto de 2014, no jornal de inspiração católica Raio de Luz, republicado depois nesta página.

Sendo o artigo de Miguel Bruno Duarte de Maio de 2013, poderíamos estranhar esta ligação serôdia com que o dito Duarte tão atenciosamente me distingue, e que lhe agradeço.

Poderíamos, mas não estranhamos. Miguel Bruno Duarte, decididamente, revela dificuldades em situar-se no tempo. Diz que António Telmo se esqueceu de me mencionar, a propósito de Pascoaes, no prefácio de 2002. Não se esqueceu – porque não se poderia ter lembrado. Pela razão singela, que porventura não se cruzou com a inteligência ou, vá lá, com a memória do dito Duarte, de em 2002 não ter eu ainda escrito uma única linha sequer, quanto mais um estudo, sobre Pascoaes. António Telmo era um homem de dons, mas neste caso não atingiu a prognose da vidência.

Escreveu, porém, em 2007 (permita-me Miguel Bruno Duarte mais um daqueles saltos cronológicos em que tanto parece comprazer-se), na carta com que prefaciou o meu livro de estreia O Anjo e a Sombra – Teixeira de Pascoaes e a Filosofia Portuguesa, estas entre outras palavras, das quais sublinho algumas:

 

Devo confessar-lhe que, não obstante os laços de amizade que nos puseram a mim e a si colaborantes em vários momentos de expressão cultural e até cultual, não esperava que, de repente, efeito talvez de um fiat lux, emergisse da Sombra da sua alma o Anjo do seu intelecto a dizer-nos as palavras que faziam falta e que ainda não tinham sido ditas sobre Teixeira de Pascoaes e a filosofia portuguesa, a filosofia portuguesa e a redenção de Portugal.

 

Poderia ainda transcrever o que António Telmo escreveu em seguida naquele prefácio, nomeadamente o modo como liga Pascoaes a Álvaro Ribeiro. Impede-me porém que o faça certa modéstia que gosto de cultivar e sobretudo o sentimento cristão da caridade, a que até perante Miguel Bruno Duarte me sinto obrigado.