VOZ PASSIVA. 10
Mais um livro de António Telmo*
Rafael Monteiro, sob o pseudónimo de Frei Mínimo
António Telmo (dr. António Telmo Vitorino) acaba de publicar, na «Guimarães», de Lisboa, mais um trabalho de sua autoria: «Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões», obra sábia e polémica – como todas as deste autor, ao qual devemos, nós, portugueses, a já quasi clássica História Secreta de Portugal e a famosa Gramática Secreta da Língua Portuguesa – escrito inspirado que durante muitos anos irá merecer estudo atento a cabalistas e filólogos.
António Telmo sempre se afirmou discípulo de José Marinho e Álvaro Ribeiro, grandes filósofos portugueses que a morte há pouco tempo afastou do nosso convívio. Quando na Universidade de Brasília exerceu o Mestrado, António Telmo aprendeu e conviveu com outro grande mestre: Agostinho da Silva, agora felizmente entre nós. (A cada um destes três Mestres dedicou A. Telmo três dos seus livros, acto de reconhecimento pouco comum entre escritores). Destes homens invulgares foi discípulo dilecto e, do real mestrado que exerceram, o mais qualificado, o mais nobre.
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Fiel ao pensamento de Sampaio Bruno, de Leonardo Coimbra e de Álvaro Ribeiro, António Telmo continua a tradição filosófica defendia por aqueles altos pensadores: filósofo e filólogo, talvez haja ultrapassado o conhecimento dos seus Mestres em alguns estádios do saber. Defendendo, e outros com ele, corresponder o esoterismo de hoje à teologia medieval, mercê da patente decadência das igrejas, António Telmo é alto expoente do pensamento religioso português.
O «Desembarque dos Maniqueus» ilumina surpreendentemente algumas das mais belas estâncias dos «Lusíadas», nosso Livro Sagrado. Camões surge-nos, embora oculto, liberto dos negros véus com que durante séculos procurara, escondê-lo – ora por razões de Estado, ora pela sem razão de uma Fé. Alguém já escreveu ter sido necessário esperar 400 anos por António Telmo para conhecer Camões!
O «Desembarque dos Maniqueus» é, presumimos, a primeira obra de interpretação gnóstica do nosso tempo; nela Camões surge-nos como um ser universal.
Neste trabalho o autor procurou estabelecer um paralelismo entre a imaginação de Camões e a de Zoroastro, e convida os homens a meditar, reflectir, para que, conhecendo-se, possam ascender aos mundos superiores.
Oxalá todos pudéssemos desembarcar na «Ilha» – dos Amores, ou outra, se é que todas não são «Ilhas de Amor»…
Ao autor, velho amigo desta terra, os nossos parabéns.
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* Publicado na edição de 30 de Abril de 1982 do mensário sesimbrense Raio de Luz.