INÉDITOS. 55

25-08-2015 12:37

Oferecemos hoje aos leitores "O messianismo", um dos capítulos do livro Álvaro Ribeiro e a Gnose Judaica, que será parte integrante do IV Volume das Obras Completas de António Telmo. O filósofo não o chegou a concluir. Mas o que nele brevemente afirma afigura-se-nos uma preciosa novidade.

O messianismo

 

Vimos que a designação mais corrente de árvore não é absoluta, pois outros termos existem para significar a tábua das categorias: trono, balança, carro, homem, etc….

Trono é o termo preferido por Álvaro Ribeiro que quase sempre o associa a escada e a escala, comparando a visão de Ezequiel com a visão de Jacob.

Nas páginas finais d’A Literatura de José Régio distingue antropomorfismo de antropolatria, valorizando um para repudiar a outra, parecendo aceitar a tese de Protágoras de que o homem é a medida de todas as coisas.

O livro aristotélico Da Alma, com a sua divisão do homem em corpo elemental, alma vegetativa, sensitiva e intelectiva, segue de perto o esquema cabalista: corpo, nephesh (alma vital), ruah (alma–sopro), neshamah (alma intelectiva). É o que, segundo o Zohar, se pode ver na chama de uma vela.

A figuração de Cristo, à luz da Cabala, permitiu aos cristãos-novos praticarem a nova religião sem traírem a religião de nascimento, com um mínimo de hipocrisia e um máximo de diplomacia. A duplicidade não é condenável quando há um terceiro termo a garantir a coexistência aparentemente contraditória. Alguns adágios sefardis referem-se à situação psicológica do cristão-novo: quem não quer ser lobo não lhe veste a pele, o hábito faz o monge. Ao que respondiam os iniciados, justificando a hipocrisia, com a variante “o hábito não faz o monge”.

Onde faltou a filosofia, instalou-se, na sucessão das gerações, o remorso que divide a alma. Com efeito, para os portugueses, o problema de Cristo é o primeiro problema.

Álvaro Ribeiro adopta a solução da terceira tradição – a islâmica – que vê em Cristo um profeta, um novo Moisés que veio depurar a religião de seus pais, e de modo nenhum instituir uma nova religião. Isto equivale a pensar que o catolicismo deve, em princípio, perpetuar o judaísmo. O obstáculo consiste em (…)[1]  


António Telmo



[1] N. do O. – António Telmo interrompe neste ponto a escrita do presente capítulo, sem a retomar.