INÉDITOS. 42
Com o Max Hölzer:
O endereço
Não me interessou aprender com este homem notável que o José Marinho me apresentou como um esoterista de alta qualidade. Era de facto um esoterista de alta qualidade, mas a sua íntima ligação à escola de Gurdjieff não me agradava.
Enviou-me de Paris dois volumes com a Gramática do Hebreu Restabelecido de Fabre d’Olivet[1], que me esqueci de agradecer.
Passaram-se meses desde que ele regressou a Paris. Além da oferta daquele livro tinha-me enviado postais.
Pelo Natal sentia-me incomodado por ter procedido tão grosseiramente. Agora já tinham passado bastantes dias sobre o envio do livro de Fabre d’Olivet e pareceu-me um despropósito agradecer-lhe tão depois.
De súbito, ocorreu-me que poderia remediar tudo, mandando-lhe um cartão de boas festas, com os votos de um feliz Natal. Estava em Sesimbra a passar férias em casa da minha mãe. Não tinha o endereço de Max Hölzer, que estaria em Borba, no Alentejo, no papel que envolvia a encomenda com o Fabre d’Olivet. Lembro-me da impossibilidade de lhe escrever, sem possuir o endereço.
Estava no Castelo com o Rafael Monteiro quando me lembrei que não o tinha. Saí logo para propor à minha mulher irmos a Borba buscá-lo, se ela soubesse onde estava o invólucro da encomenda, se não tivesse seguido com o lixo.
Deu-se então o espantoso. No assento do carro estava ali esse[2] invólucro, com o endereço bem visível do Max Hölzer. Não podia lá estar quando me meti no meu automóvel quando vim para o Castelo: ter-me-ia sentado em cima daquele grosso papel amarelado que envolvia dois grossos volumes.
Escrevi ao Max Hölzer dizendo-me disposto a seguir o seu ensino. Juntava também os votos de feliz Natal.
[1] N. do O. - O título desta obra, no original francês, é La Langue Hébraïque Restituée.
[2] N. do O. – Palavra de muito difícil leitura no manuscrito. Admitimos igualmente a hipótese de António Telmo haver escrito “um”.