INÉDITOS. 36
Escrito no Redondo, no início da década de 70, quando António Telmo ali fundou a Escola Preparatória local, o poema inédito que hoje publicamos foi lido em público, pela primeira vez, pelos Jograis U... Tópico, no passado dia 13, na primeira parte do recital "Os poemas e os poetas de António Telmo", e constitui-se como preciosa peça autobiográfica.
[António Telmo na varanda da Oca, em Brasília, na segunda metade da década de 60]
Dostoiewskiana
Pus o meu ser no prego
No dia em que arranjei um emprego:
Professor de Filosofia.
A esmola que se dá a um cego
Em paga da luz que não teve ou perdeu
É mais do que a que se me deu
Para não ensinar o que sabia.
Para não ensinar o que pensava
E o que o meu génio me dizia.
Aristotélico, pregaram-me à cadeira.
Pitagórico, mandaram-me à fava.
Puseram coisa onde havia ideia.
Epicurista, deram-me um horário
E um reitor felizmente hebdomadário
Arrumado como a página dum jornal.
Não faz mal! Não faz mal! Não faz mal!
Se pus meu ser no prego
No dia em que arranjei um emprego,
Se foi essa a minha sorte,
Hei-de levantá-lo
Com o dinheiro da morte.
António Telmo