INÉDITOS. 16
Sobre o oaristo*
Após ter afirmado que as gnoseologias dualistas parecem incapazes de explicar o conhecimento pelas relações do sujeito com o objecto (S–O), Álvaro Ribeiro escreve em A Razão Animada, na página 151 da primeira edição:
“O conhecimento é, como a etimologia ensina [cognoscere] uma relação de Sujeito com Sujeito (S-S) e humanamente uma relação social de espírito a espírito.”
Social, aqui, presumo que significa relação pela palavra. Dado que, para Álvaro Ribeiro, o paradigma da relação S–S é a do homem pela mulher pelo oaristo. O oaristo, ligando os amantes pela palavra, transmite à união amorosa a altitude de um sacramento. Na verdade, como lembra o filósofo no prefácio À Verdade do Amor de Vladimir Soloviev, na realização do matrimónio os noivos são os sacerdotes, é pelas próprias palavras que acompanham o rito que se declaram marido e mulher para toda a vida.
A palavra oaristo, que qualquer dicionário diz ser a conversa entre os amantes, não é de uso comum, nem sequer entre os literatos; não obstante, Eugénio de Castro, o discípulo português de Peladan, ter escrito um livro maravilhoso de poesia com esse nome.
Os amantes que praticam o oaristo juntam às palavras que para os outros são banais, secretas e superiores significações. Cada palavra é uma energia, por vazia e oca que pareça a ouvidos profanos. A relação de espírito a espírito precede, prepara e acompanha a relação das almas e não dizemos dos corpos pois as almas os incluem, para bem ou para mal.
António Telmo
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