INÉDITOS. 107
Rascunho de uma carta para Pinharanda Gomes, presumivelmente motivada, em preito de gratidão, pela saída a lume de “António Telmo e as Gerações Novas", recensão que este último publicara em O Diabo de 17 de Agosto de 2004, não sabemos se este escrito inédito de António Telmo se tornou definitivo na volta do correio. Vale, porém, por si mesmo, como coisa preciosa, entre a nota de testemunho geracional que revela e o apontamento de gramática secreta que encerra.
Rascunho de uma carta para Pinharanda Gomes
Meu caro Amigo,
Recebi hoje mesmo o jornal, que já conhecia por tê-lo comprado. Muito obrigado e também pela sua generosidade com que vive as palavras sobre alguma coisa que eu tenha feito na vida.
Depois da evocação que deixou na Brotéria sobre o meu irmão e da comum relação com a filosofia portuguesa em que juntou filósofo e pensador sinto-me orgulhosa da minha família pelo sangue e pela alma, onde o meu Pai está presente e onde está presente o Pinharanda Gomes.
Não me julgo pois, como diz, o único continuador vivo do excelso movimento filosófico ou de pensamento, não podendo esquecer tudo quanto o meu Amigo e o Braz Teixeira têm imaginado cada uma seu modo (imaginar é para mim, desde que conheço o Luís de Camões, a actividade mais elevada da alma) contribuindo ambos para manter cada vez mais em acto aquele movimento.
Tudo afinal, neste mundo em que cada vez mais encarnam os diabos, se resume nisto: cá andamos nós. Cá pelo fonema é íntimo e profundo; andamos é a relação dessa profundidade com outras profundidades, o nós.
Cá andamos nós. Que Deus nos ajude pelos caminhos diversos, pelo mesmo caminho!
Do seu velho amigo
António Telmo