INÉDITOS. 106

02-05-2023 00:00

O presente escrito corresponde à parte inicial, nunca desenvolvida ou concluída, de um livro que António Telmo tencionaria intitular de O livro das minhas invenções, como o próprio refere no texto. Apesar da sua natureza brevíssima e fragmentária, reveste-se da maior importância para a compreensão da obra de Telmo. Nele, o filósofo da razão poética introduz-nos a noção de invenção, a qual, tomada na pureza etimológica da origem, nos remete para a dimensão criacionista de um pensamento que sempre se propôs pensar o irracional: a razão poética, justamente por o ser, é a razão que cria. Mas o sentido do novo tanto vem da e xperiência que conhece o mistério, e da expressão que, pensando, a re-vela, como da hermenêutica que a re-conhece. Nisto reside a glória da sua invenção.

 

O livro das minhas invenções[1]

 

A palavra invenção, como muitas outras palavras, sofreu um desvio do seu étimo pelo qual deixou de ser compreendida. E foi isto que levou muitos a dizerem, por exemplo, que os portugueses não inventaram o Brasil, mas sim o descobriram.

Invenção é o que vem (de venis) e o que sopra (ventum), é o que nos ocorre subitamente no espírito e nos faz ver o que não víamos e o que os outros não viam. Sublinhamos aquilo que explica o significado corrente da palavra.

Este é o livro das minhas invenções. Refiro-as por ordem fenomenológica:

 

1.º - O Claustro dos Jerónimos e o 4.º grau do Regime Escossez Rectificado.

2.º - A explicação dos fonemas da língua portuguesa pela árvore cabalista das sephiras.

3.º - Camões como discípulo de Zoroastro.

4.º - As dez categorias de Aristóteles explicadas pelas dez emanações divinas, tais como os cabalistas as representam na Árvore das Sephiras.

5.º - A interpretação do episódio do Adamastor a partir da bizarra etimologia do nome do Titan: Adão Astral.

E ainda a demonstração de que nele viu Vasco da Gama espelhada a sua natureza terrível. Um  e o outro são o mesmo: Téthis é-lhes comum.

6.º - O Velho do Restelo como o Velho Testamento em contraposição com os desvendadores do futuro. Uma sabedoria respeitável.

Claro que tudo isto é acompanhado de pequenas descobertas ou, por outras palavras, são uma nova luz que mostra outro Aristóteles, outro Camões, outra Gramática Portuguesa, outro Portugal.

7.º - O Monte abiegno como Teorema de Tales ou a Caverna Platónica.

(8.º - O nome de Aristóteles na raiz do seu pensamento.)

 

Como se vê, há uma constante nas sete bizarras interpretações, o serem todas de desvendamento do que está à vista e que por estar à vista ninguém vê.

Vou considerar cada uma delas pela ordem em que foram apresentadas.  

                                                                                                                              (...)    

 

António Telmo



[1] Nota do editor - O título é da nossa responsabilidade.