EM PRÉ-PUBLICAÇÃO: «HAPPY MEAL», O NOVO ROMANCE DE RISOLETA C. PINTO PEDRO

É a eles que devo a sorte de ter escapado à ressaca do divórcio, que não foi, nem de perto em de longe, semelhante à das pessoas que conheço. Apenas me apoquentava não conseguir encontrar um título para o livro que estava a escrever.

Quando vim viver para este prédio, tudo me pareceu normal. Desde o vizinho professor universitário de rosa na lapela, em licença sabática, à adolescente com ar anorético, translúcida, por isso, pensei, portadora de Luz.

Só algum tempo depois, na etapa que se seguiu com a vinda de Rubem, o meu sobrinho, é que tudo começou a revelar-se como era. Eis a viagem que o tosco do miúdo da província me proporcionou:Deus meu!, a sabática estava a ser tudo menos um sabbath, e a adolescente,

afinal, comia que se desunhava. De tudo. Nem vestígios de

falta de apetite.

A propósito deste jogo de ilusões, dizia-me Rubem, o miúdo da revelação,

inesperada voz:

Tia, o teu problema é seres simpática demais. Aqui no prédio e na rua, as pessoas que te  conhecem não têm coragem para se mostrarem como realmente são. Mentem, tia! A malta é assim!

O miúdo dava-me conselhos, cheio de lata, ufano, repleto da luz da

sabedoria. Talvez tivesse razão.

(continua)