DOS LIVROS. 63
Os filósofos e a inveja[1]
Os poetas e os filósofos são ambos vítimas do mal por caminhos diferentes. A sociedade tolera os poetas da palavra, da pedra ou da cor, talvez porque não argumentam e o seu irracionalismo não põe em perigo a mediocridade das relações humanas, sustida, nas suas vastas ramificações, pela razão judicativa. Os filósofos, aparecendo como seres de razão, de uma razão que é o argumento que torna evidente a mediocridade e transmite à verdade intuída pelo irracionalismo dos poetas o poder capaz de a tornar activa no mundo dos homens, vêem-se por isso perseguidos e hostilizados, odiados, até ao assassinato.
António Telmo
(Publicado em Capelas Imperfeitas - Dispersos e Inéditos, 2019)
[1] Nota do editor – o título é da nossa responsabilidade.