DOS LIVROS. 34

18-02-2015 11:33

Luís de Camões é verdadeiramente o Gama

A identificação de Luís de Camões com Vasco da Gama necessita de ser fundada. Não é, porém, difícil ver que Os Lusíadas, não deixando de ser os Lusitanos, descendentes de Luso, como Fiéis de Amor, têm em si o Luís, porquanto o poema é o cantar épico do Luís (de Camões), da sua navegação material e imaterial. Luís como Luso são duas formas da palavra luz.

Por outro lado, n’Os Lusíadas, se declara que o homem Vasco da Gama, se o compararmos a César e a Alexandre, a Marco António e a Augusto tendo, como herói, a mesma bravura, era nulo no domínio do Espírito. Não tinha «na mão uma espada e na outra o livro», como de si diz Camões. Era rude, áspero e minguado de engenho.

Explicitamente, na estrofe 99 do Canto V, afirma ser ele, o Gama, pouco amado das musas que inspiram Os Lusíadas, das Tágides e de Calíope. Daí podermos afirmar que o Vasco da Gama do Poema não é, senão por empréstimo, o homem Vasco da Gama.

Luís de Camões também fez materialmente a mesma viagem e, como o outro, sofreu as inclemências do mar. Como é possível, e mais do que possível, ver no «herói» um Cavaleiro do Amor, um Adepto, somos forçados a pensar que o nauta e a sua navegação, no que significa de iniciático, são a expressão da própria vivência do Poeta naquele domínio da alma em que a contemplação e a acção se reflectem uma na outra. 

Posto isto, o caminho fica aberto para identificar Luís de Camões com também o Adamastor, como propusemos já. Luís de Camões é o Gama e é, no seu aspecto terrível, o Adamastor. Não se deve passar por alto aquilo que dele pensavam os seus contemporâneos, que era possuidor de uma natureza extraordinária, que tinham por terrível. 

 

António Telmo

 

(Publicado em Luís de Camões, 2010)