DOS LIVROS. 31
De um caderno de apontamentos. 09
Thomé Nathanael é o nome daquele antiquário de Estremoz que alguns dos leitores dos meus livros chegaram a pensar que existia realmente com loja posta numa das ruas daquela cidade. Existe, mas não desse modo. Se não existisse, como seria possível falar dele?
Eu tirei-o das letras do meu nome e pu-lo a ser como se fosse a essência da minha alma, o amigo um dia anunciado da minha essência. Thomé Nathanael é, com efeito, anagrama de António Telmo, mas possui virtudes que em mim são imperfeitas, como se patenteia pelos dois agás que o constituem, dois sopros ou modos de vida espiritual unificados pelo divino El da última sílaba do nome.
Os diálogos que fizestes o favor de ouvir, páginas atrás, resultam da confrontação daqueles dois espíritos no espelho da alma do sábio em coisas antigas. Thomé é o cristão gnóstico à semelhança do Apóstolo, tal como a sua imagem interior se compõe a nossos olhos através da leitura do Evangelho segundo São Thomé e sobretudo de O Canto da Pérola. Nathan é o judeu cabalista. Ambos olham a mesma estrela. São distintos, mas harmoniosos entre si pela comum origem persa das suas doutrinas. Daqui, como portugueses, participarem do mesmo entusiasmo perante Luís de Camões, cuja lira e os seus sete sons essenciais vibram no divino El.
António Telmo
(Publicado em Congeminações de um Neopitagórico, 2006/2009)