DISPERSOS. 21

20-11-2023 11:10

Publicamos hoje um disperso télmico que se encontrava esquecido e omisso da sua bibliografia. Foi expressamente escrito por António Telmo para o catálogo da exposição Souvenir, do seu amigo, o escultor açoriano Carlos Dutra, que esteve patente, de 14 de Julho a 12 de Setembro de 2008, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, na cidade da Horta, de onde Dutra é natural.  

 

 

Carlos Dutra é nome de escultor[1]

 

Carlos Dutra é nome de escultor. O ritmo sonoro de Dutra e de Pedra é o mesmo. Os dois nomes, o do escultor e o da pedra, diferem em especial pelo U de um e pelo E do outro. A vogal U aparece em palavras nocturnas, enquanto que a vogal E vemo-la brilhar em Primavera, em amarelo, em estrela. Carlos indica contenção pelo C, suavidade e movimento pela combinação do R com o L, infinitude pelo S. Carlos Dutra recebeu estes dois nomes em 1959 na ilha do Faial, quando as almas ainda não tinham recuperado do medo causado pelo vulcão dos Capelinhos.

Os Açores são formados por nove grandes pedras envoltas em terra e minério que emergiram à superfície das águas para receberem a luz do Sol e se encherem de vida. A escultura de Carlos Dutra prolonga o mesmo movimento. Vem dele como a onda do mar. Está programada nos seus dois nomes. A pedra arrancada à intimidade da obscura terra brilha agora ao Sol em múltiplas formas, as formas que a bela imaginação do escultor criou para o mundo dos homens.

Esta exposição tem por divisa a palavra souvenirSouvenir é o que vem de baixo, da profundidade da alma à consciência. O traço entre o sous e o venir distingue os dois planos.
Tudo assim se conjuga e harmoniza e é por isso, com estes ritmos na alma, que devemos olhar as múltiplas expressões da pedra que Dutra nos oferece neste lugar. 

 

António Telmo 



[1] Nota do editor – O título é da nossa responsabilidade.