CORRESPONDÊNCIA. 33

06-01-2017 22:35

CARTAS DE ANTÓNIO CARLOS CARVALHO PARA ANTÓNIO TELMO. 02

 

17/1/77

 

Ora viva!

Afinal acabámos por nos despedirmos precipitadamente, cada um para seu carro, naquela madrugada fria em Miraflores. E frio foi também aquele serão, povoado de longos silêncios. Meu Deus, que falta de inspiração… Espero que não seja assim todas as quartas-feiras… Qualquer dia volto lá, para ver se tenho mais sorte com a animação cultural e filosófica. A propósito: qual é a morada do Luís Furtado Guerra (Júdice mas nunca judeu!)??

Devo confessar que saí de lá de casa bastante decepcionado. Tinha imaginado que iria encontrar um “festival” de diálogo socrático – mas como, se Platão era “apenas” um amante da “ironia”, “pouco sério”, etc., etc.?... preferi remeter-me ao silêncio, bem mais positivo neste caso.

Veja que diferença houve entre o diálogo a três[1], durante o almoço e na Pastelaria Zurique, e aquele serão em que todos parecíamos esperar que o Espírito Santo descesse sobre as nossas cabeças, sob a forma de línguas de fogo…

Uma certeza nos resta: a de que interessa realmente trabalhar noutro sentido, com outra profundidade e com os olhos postos em tarefas mais concretas que estão por fazer. O seu estudo sobre a “trilogia” Virgílio-Dante-Camões, o estudo alquímico de Yvette Centeno, a minha “viagem” ao Reino do Preste João e a simbologia numérica do nosso amigo Sottomayor (espero que lhe forneça o necessário estímulo) são perspectivas de trabalho muito reais para os próximos meses, já anunciadas por mim aos sócios da Vega. Entretanto, vamos apontar para uma assídua troca de conhecimentos e informações várias a partir do que formos lendo e sabendo. Certo?

A propósito: Edições Afrodite (Fernando Ribeiro de Melo) publicaram “Metafísica do Sexo”, livro que eu queria tanto para a nossa colecção. Paciência… espero agora resposta de Espanha, para saber o que está livre do Evola.

Espero também resposta de Coimbra, do tal grupo ligado à revista “Ruta Solar”. Vamos lá ver o que dizem.

E os “ruídos estranhos” continuam: depois e Coimbra, foram ouvidos na Marinha Grande…

Um abraço e até à próxima

António Carlos Carvalho

 

 



[1] O terceiro elemento seria, presumivelmente, Francisco Sottomayor.