CORRESPONDÊNCIA. 29
CARTAS DE ANTÓNIO TELMO PARA ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO. 10
Estremoz, 8 de Junho de 1991
Amigo
No dia 24 de Junho lá estarei, a Deus praza, penso que na esplanada perto do edifício, se ainda é o mesmo, onde trabalha ou, às 17 horas, dentro do edifício. Tenho uma boa alegria a pensar no jantar juntos.
Aquilo não tem explicação, a “Dama de Oiros”, que v. prefere escrever sem iod. Lá sabe porquê. Mas é esplêndido conversar sobre o que não tem explicação como se a tivesse.
Quanto ao 5 de Outubro, falaremos depois, entre nós. O que me atrai é o conhecer esses dois grandes espíritos, de que tenho boa notícia por intermediários. Li de um fôlego o Bruno anarquista[1]. Acho óptimo, mesmo que ele não o tivesse sido. Muito mais de acordo com o nosso Bruno do que vê-lo a resfolegar impotência sobre uma mulher. No entanto, o romance é belo, se trocarmos o protagonista ou lhe dermos a verdadeira identidade. V. deve ter inspiração: o anarquismo, se somente pensamos bem quando pensamos o contrário dos outros, como dizia o Eudoro, é a doutrina dos “santos malditos” e aspirantes, que temo bem que sejamos todos. Um grande abraço do seu
António Telmo
[1] Nota do Editor – António Telmo refere-se ao opúsculo A Ideia de Deus e o Pensamento Libertário, de António Cândido Franco, Separata do n.º 55 (Inverno de 1991) da Revista A IDEIA.