CORRESPONDÊNCIA. 19

06-04-2015 21:50

CARTAS DE ANTÓNIO TELMO PARA ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO. 02

[António Cândido Franco e António Telmo em Évora, em 1992]

 

 

Estremoz

5 de Fevereiro de 1992

 

Meu caro Amigo

 

De um livro sobre Freud (São Freud, como v. escreve): “D’après une certaine tradition, l’année de la transition se situe à trente-six ans. Il est dit que c’est à l’âge de trente-six ans que le Baal Shem Tov se révéla au monde. Et c’est aussi vers cet âge que Freud commença à se faire connaître, emergeant de la période de latence des années precedentes. Freud eut trente-six ans le 6 Mai 1892. Jones écrit:

“Bien qu’il fût doué d’une intuition assez vive que l’on vit se manifester librement dans les années de maturité, nous avons tout lieu de croire que, pendant les annés dont nous venons de parler, en particulier entre 1875 et 1892, son évolution fut lente et labourieuse…”

O seu livro[1], que ontem recebi pelo correio, foi editado cem anos depois, quando o António Cândido está prestes a tocar o limiar dos trinta e seis anos. A Arte Poética tem, como pode verificar, a data de 1963, quando eu tinha trinta e seis anos. Não me limito, por isso, a agradecer-lhe a dedicatória. O que eu fiz ao Álvaro Ribeiro, faz v. agora, passados 28 anos, ao António Telmo, exactamente nos mesmos termos[2]. O sinal renova-se e reaparece pitagoricamente. Dentro do mesmo mistério vemos que as Notas do ExílioA Alegria, a Dor e a Graça e O Problema da Filosofia Portuguesa, livros que inauguram o futuro, foram editados aos trinta e seis anos. Assim se vão dando os nós na corda secreta. Na ou com a?

Creio, com isto, ter tudo dito.

                       

                                                           Um grande abraço do

António Telmo

 

P. S. – Claro que já li o livro. Há vinte e quatro horas que estou consigo.

                                  



[1] Nota do editor - António Telmo refere-se a Teoria e Palavra, Lisboa: Átrio, 1991.

[2] Nota do editor -  António Telmo é o dedicatário público de Teoria e Palavra. Na dedicatória, António Cândido Franco escreve: “Ao António Telmo, sinal de reconhecimento”. A dedicatória impressa é, pois, similar à que António Telmo apusera ao seu livro Arte Poética: “Ao Álvaro Ribeiro, sinal de reconhecimento”.