DOCUMENTA. 09

04-10-2023 10:07

João Augusto Aldeia, membro do Projecto António Telmo. Vida e Obra e investigador de História local, descobriu recentemente, num arquivo de gravações de som de trabalhos que realizou para o jornal O Sesimbrense, de que durante vários anos, e até há bem pouco, foi Director, um ficheiro áudio com a gravação da intervenção de António Telmo durante a sessão de lançamento da edição da Zéfiro de Congeminações de um Neopitagórico, que se realizou na Biblioteca Municipal de Sesimbra, em 9 de Maio de 2009.

A notícia então publicada por João Augusto Aldeia na edição de Maio de 2009 de O Sesimbrense oferece-nos um excelente retrato da sessão:

Apresentamos agora aos nossos leitores a transcrição integral da intervenção de António Telmo, na qual se optou por se manter, tanto quanto possível, as marcas da oralidade. Trata-se de um documento relevante para o conhecimento da vida e da obra do filósofo. A João Augusto Aldeia, a nossa gratidão pela cedência desta gravação.

   

Da esquerda para a direita: António Telmo, Maria José Albuquerque (Directora da Bblioteca Municipal de Sesimbra), Pedro Sinde e Alexandre Gabriel

 

Bem, como é da praxe, eu começo por agradecer os sucessivos elogios que foram feitos à minha pobre pessoa, talvez com uma reflexão, uma reflexão breve que faça com que esses elogios não me façam mal.

Eu, realmente, sou uma pessoa afortunada. Sou uma pessoa afortunada. Cheio de êxitos. Os meus livros são lidos. Há pessoas que escrevem nos blogues saudações ao António Telmo. Já tive várias homenagens. Não chego aos calcanhares do Saramago, mas enfim… [risos] É entre os pequenos… é entre os pequenos que sou notado. Mas isso deve-se, isso deve-se a que eu tenho no meu horóscopo, na casa décima, planetas que dão necessidade de aventura às pessoas. Eu, por exemplo, tenho a Lua no alto do Céu. Isso deu-me uma pontaria excepcional na fisga, por exemplo. [risos] Não é meu mérito. Aqui em Sesimbra sabem isso, não é? Os mais velhos… Não é meu mérito… É porque a Lua, que é a deusa Diana, a deusa caçadora, se encontra no alto do Céu, não é? Por conseguinte, se há por aí alguém invejoso, não tenha inveja de mim, ahn?, porque tudo isso é determinado pelos nossos… pelas nossas cartas do Céu.

Agora, quanto ao meu livro, e como que em ressonância com o que o meu grande amigo Pedro Sinde disse sobre o livro, eu gostaria de saber onde está a Paula, onde está aqui a Paula… [Alexandre Gabriel: – a Sofia…] Ahn? A Sofia, pois… Não está? A Paula… Está a Paula… Bom, mas está cá… [Alexandre Gabriel: – eu transmito…] está cá o… Esta capa, esta capa  foi feita pela Sofia, que é a companheira do Gabriel, Alexandre Gabriel, e há aqui uma coincidência muito… que eu achei muito interessante, que é: Congeminações de um Neopitagórico, conforme observou a minha amantíssima esposa que está ali sentada, tem 13 – em Congeminações – letras. Em Neopitagórico – outras 13. Em de um 4. 13 e 13: 26; e 4: 30. O que é interessante é que aqui depois neste triângulo que está com os raios, contando os raios, tem também 30 raios, 30 raios… Isto é uma janela, mas só se pode entrar por esta janela, nesta casa, depois de ter lido o livro todo, ahn? Quem não ler o livro… Quem entra por esta janela…

Bem, agora, uma coisa autobiográfica. Eu fiquei impressionado com este olho que vem no triângulo, porque não só é muito parecido com o meu olho esquerdo, como também me aparece de noite naquela… naquele período em que estamos para adormecer, chamado… chamado período pré-hipnótico, em que a certas pessoas, e eu sou uma delas, vão surgindo imagens, imagens antes de adormecer, e a mim aparecem-me frequentemente muitos olhos, muitos rostos… e um dos olhos que me aparece frequentemente é este… é este que a Sofia pôs aqui, ahn? é este… Mais: tenho um medo dele tremendo! [risos, palavras imperceptíveis]

Ora, diz o Carlos Castaneda, que foi referido há bocado pelo Pedro Sinde, quando o Castaneda, que é discípulo do índio, diz ao índio que lhe aparecem olhos antes de adormecer, o Don Juan, o índio, diz-lhe: – É por esses olhos que tu podes entrar para o mundo do desconhecido, para o mundo [palavras imperceptíveis].

Ora é por isso que o olho que eu vejo de noite, faz medo, porque por trás dele estará o verdadeiro mundo, e o verdadeiro mundo não é para brincadeiras. Já este não é para brincadeiras… [risos]

Quanto ao ver as evidências, eu termino com uma coisa humorística, uma coisa humorística… que é o poder das evidências, que a gente nunca vê… Por exemplo, quando olhamos para um rosto, nunca reparamos nas orelhas [risos]. Reparem bem… Reparem bem nisso! Os olhos da pessoa, não é, os olhos das pessoas como que cativam a nossa atenção, a nossa atenção, e não reparamos que têm todas orelhas, olhem para mim, não é? Quando se olha e vê-se as orelhas, começa-se a pensar se o Darwin não terá razão… [risos] não terá razão… Eu não acredito que a gente tenha nascido… tenhamos sido macacos [palavra imperceptível]… Se algum de vocês aceita esta doutrina, então muitos parabéns, ficam muito bem servidos! [gargalhadas, aplausos]