CORRESPONDÊNCIA. 38

26-02-2017 19:13

CARTAS DE ERNÂNI ROQUE PARA ANTÓNIO TELMO. 03


 

                                                           Algés, 18 de Junho 1977.

 

Meu caro Telmo:

 

Grato pela “História Secreta de Portugal” e pela dedicatória amiga. Li-o de um fôlego em Sesimbra (exemplar emprestado pelo Rafael), vou na segunda leitura e troquei impressões com os filósofos, 4.ª feira última, em casa do Afonso Botelho. O autor do Touro Celeste serviu-nos em Vista Alegre finíssima um chá das 5 (eram 23 horas…) infuso em chaleira rica de prata dourada, gentileza e requinte que em meu entender desbancam o cafezinho burguês do Furtado Guerra, de Miraflores (ausente por doença).

A Escola Formal estava também representada pelo Orlando, que se meteu comigo por causa das figas. Vou ter de refundir o suelto, “metendo-lhe” o Leite de Vasconcelos e a polémica do Camilo com o Senhor D. Luís, mais a pornográfica interpretação vèlhinha, da “coisa na coisa”. Se tiver paciência.

Mestre Álvaro, entre dois goles sorvidos da xícara a fumegar, foi-nos dizendo – e nós dizer-lhe – que Você na Secreta deixa o D. Manuel I mui maltratado, na medida em que lhe coloca no reinado venturoso o começo do pátrio trambolhão. Eu acho o livro formidável, a pedir 2.ª edição correcta e aumentada. Correcta: sem gralhas e com melhores fotografias, algumas grandes, de página, a dar o pormenor. Aumentada: Tomar, etc.

Há dias, no Centro do Livro Brasileiro, perguntei se a História estava a vender-se bem. Disseram-me que sim e aproveitei para afirmar, altissonante: é um grande livro! Quando saí, já havia dois indígenas entregues à folheadela percursora da compra!

Prometi ao Dr. Manuel Guimarães solicitar-lhe para ele um exemplar, dado o entusiasmo demonstrado quando lhe falei do livro. Se quiser ser amável e mandar-lho, a direcção é Hotel dos templários, Tomar. Gostava que lho enviasse.

A terminar: quanto ao horóscopo que não pode fazer, há decerto um pequeno lapso. Feito foi ele. O que Você pensa não poder fazer é revelá-lo e por isso o re-velou. Só me resta o Valete, Frate!

 

            Um abraço,

                        Ernâni Roque